Wikileaks, diplomacia e economia
Imagine, caro leitor, uma situação onde todo mundo conseguisse ler a mente das pessoas. Não haveria lugar para mentiras nem secredos. O mundo seria muito previsível e as pessoas não poderiam esconder mais nada.
Na teoria econômica, um dos motivos para que os mercados não se equilibrem são as informações assimétricas dos agentes. Ou seja, compradores e vendedores não detêm todas as informações sobre os produtos, serviços ou sobre o possível comportamento de ambos num negócio. Nesse sentido, os contratos servem para diminuir os possíveis impasses perante comportamentos oportunistas. Mesmo assim, o mercado possui falhas.
Com a disseminação de documentos sigilosos dos governos, o WikiLeaks, site que nesses últimos dias publicou mais de 250 mil telegramas confidenciais de alguns governos do mundo, pretende mostrar como a diplomacia funciona nos meandros das informações assimétricas. Enquanto os diplomatas e chefes de Estados ficam se apertando a mão e posando com enormes sorrisos para fotos oficiais em eventos ou cúpulas mundiais, por detrás desses atos diplomáticos há uma realidade inversa. Embaixadores relatam aos seus governos suas percepções reais sobre os presidentes que governam os países que os acolhem, ministros do exterior zombam de governos opositores e presidentes estabelecem alianças às escondidas dos seus parceiros.
Com o WikiLeaks, a diplomacia vai mudar seus modus operanti e a transmissão de informação para seus governos, pois não há espaço para amadorismo e falsas atitudes nem políticas de Estado dissimuladas. O mundo está mais transparente e o termo “segredo de Estado” precisa ser melhor qualificado. Obviamente, que essa realidade existiria sempre e quando, todas as informações fiquem à disposição de todos os agentes.
Do ponto de vista econômico, as relações comerciais, com perfeitas informações, ficam mais claras, a possibilidade de haver ações oportunistas que afetem o equilíbrio de mercado se reduziria e, haveria uma grande tendência ao equilíbrio econômico.
Apesar de essa realidade ser utópica, o caso WikiLeaks mostra como o mundo pode ser sem segredos: mais transparente.
Esse panorama desfavorece as políticas internacionais dos países, por isso a perseguição implicante contra o criador do WikiLeaks, Julian Assange, que atualmente está sendo julgado por crimes sexuais, e que aparentemente servem como desculpa para manté-lo fora de ação.
O WikiLeaks mostra a força que a internet tem na disseminação de informações assim como também manifesta a importância do caráter colaborativo dos seus usuários, já que a maioria de documentos sigilosos chegam ao site via colaboradores anônimos que trabalham dentro dos próprios Governos denunciados.
A realidade cibernética pode atenuar a assimetria da informação e a informação privilegiada no mundo. Ainda é cedo, mas pode-se afirmar que é um ponto de inflexão para que a informação esteja disponível a todos.
* Hugo Eduardo Meza Pinto é economista, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e professor das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba. Mais artigos e materiais do economista, podem ser encontrados em seu blog.
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