Uma só morada
O termo grego oikos designa “moradia” ou “casa” e se encontra na raiz dos termos “economia” (oikos nomos) e “ecologia” (oikos logos), lembrando-nos com isso que a Terra é um único lar para todos nós, porque habitamos uma única moradia.
A esse respeito, muito apropriadamente o educador canadense Herbert M. McLuhan (1911-1980), disse certa vez o seguinte: “Na espaçonave Terra não há passageiros. Todos somos tripulantes”. Portanto, na verdade, todos somos hóspedes da “casa da vida”, do Planeta Terra que nos acolhe.
Ter essa noção de que somos participantes (e não os donos) do Planeta Terra ajuda a disseminar a consciência que precisamos para tratar com mais cuidado a Mãe Natureza.
É oportuno lembrar que no texto que abre a Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade, Leonardo Boff e Miguel de Escoto apontam que “a Terra e a Humanidade fazem parte de um vasto universo em evolução e têm o mesmo destino, ameaçado de destruição pela irresponsabilidade e falta de cuidado dos seres humanos, e que a Terra forma com a Humanidade uma única entidade, complexa e sagrada, como fica claro quando se a vê do espaço exterior, e que, além disso, a Terra é viva e se comporta como um único sistema autorregulador formado por componentes físicos, químicos, biológicos e humanos que a tornam propícia para a produção e reprodução da vida e que, por isto, ela é nossa Grande Mãe e nosso Lar Comum”.
Por isso a conciliação do sistema econômico com o ecológico se faz necessária, visto a dependência do primeiro em relação ao segundo. Economia e ecologia se interligam; não pode haver separação.
O próprio criador do termo “Ecologia”, o biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1869, ao definir ecologia, destaca-a como sendo “a economia da natureza”, apontando que é “o conjunto de conhecimentos referentes à economia da natureza, à investigação de todas as relações do animal tanto com seu meio inorgânico quanto orgânico, incluindo, sobretudo, sua relação amistosa e hostil com aqueles animais e plantas com que se relaciona direta ou indiretamente. Em uma só palavra, a ecologia é o estudo de todas as complexas inter-relações a que Darwin designava como as condições da luta pela sobrevivência”.
Por isso, nossos sistemas econômicos, nossa maneira de lidar com os recursos naturais e os serviços ecossistêmicos, nossa maneira de viver, nossa forma de ordenar a produção humana, nossa maneira de organizar a atividade econômica, o consumo, a produção, a circulação de mercadorias e a gestão de resíduos, precisam – urgentemente – encontrar uma forma de se alinhar com os ritmos ecológicos da Terra.
Não se pode perder de vista que toda atividade humana (e econômica, por conseguinte) repousa nos ecossistemas de duas maneiras: 1) pela extração de recursos naturais para “alimentar” a atividade econômico-produtiva; e 2) no descarte de dejetos (resíduos) sob a forma de matéria ou energia degradada (dissipada).
Parte desse pressuposto então a necessidade premente em se respeitar os limites ambientais, uma vez que o processo econômico “opera” dentro de um subsistema maior, aberto, chamado meio ambiente (ecossistema natural finito).
É assim que “funciona” a atividade econômica, numa relação íntima com a natureza. Não é possível, pois, conceber uma economia dissociada da natureza, visto que não há atividade econômica e humana sem uso de água, energia, matéria, fotossíntese e solos.
Toda a atividade econômica “funciona” sob as bases da ecologia. O ato econômico (produção – consumo) carrega em si uma dimensão ecológica. O sistema econômico se interliga (e depende) do sistema ecológico que dá suporte à atividade de produção.
Como bem diz Steve de Gruchy, ex-professor de Teologia da Universidade de KwaZulu (África do Sul), “esses sistemas têm de levar a sério o fato de que todos nós vivemos a jusante, e não há quantidade de inovação tecnológica que possa mudar isso”.
De igual forma, merece destaque a ponderação feita pelo prof. Larry Rasmussen: “a produção econômica e o consumo, bem como a reprodução humana, são insustentáveis quando não cabem mais dentro dos limites de regeneração da natureza. Assim, a moral da história é que, se nós não reconhecermos que as leis da economia e as leis da ecologia são, em última análise, as mesmas leis, ficaremos atolados em problemas *”.
*Rasmussen usa um termo menos polido. Por razões óbvias, optei por empregar a palavra “problemas”.
**Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor da Faculdade de Ciências da Fundalção do Instituto Tecnológico de Osasco (FAC-FITO) e do Centro Universitário FIEO (UNIFEO).
***Artigo publicado originalmente no site do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
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