Uma inimiga chamada infraestrutura logística
Martiniano Lopes e Marcio Ikemori*
Ainda não foi realizado nenhum levantamento oficial, mas não é exagero afirmar que dez em cada dez estudos realizados sobre o agronegócio brasileiro apontam a infraestrutura logística do país como um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento do setor. Segundo dados da pesquisa The Global Competitiveness Report 2013 – 2014, realizado pelo World Economic Forum, o fornecimento desse serviço de forma inadequada é o maior entrave para fazer negócios no Brasil, ficando à frente até dos tão temidos e sempre polêmicos impostos.
O mesmo levantamento aponta que, em um ranking de qualidade envolvendo 148 países, o Brasil ocupa a 114ª posição em infraestrutura, a 103ª em ferrovias, a 120ª em rodovias, a 123ª em transporte aéreo e a 131ª em portos. Ou seja, está mais do que claro que a falta de infraestrutura para escoamento da produção, através de ferrovias, rodovias, hidrovias ou portos, é o maior desafio enfrentado diariamente pelas empresas do agronegócio.
O resultado da ineficiência logística se reflete diretamente na competitividade da agricultura. O custo do transporte da produção tem uma média global de 30 dólares por tonelada a cada mil quilômetros, enquanto no Brasil este valor atinge 80 dólares por tonelada. Dessa forma, o impacto da logística no agronegócio, segundo estudo da consultoria Intelog, é de 8% do Valor Bruto de Produção (VPB). Apenas para se ter uma ideia, o VPB de 2013 ficou em R$ 421,5 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Em 15 de agosto de 2012, o Governo Federal lançou o Programa de Investimentos em Logística (PIL), que inclui um conjunto de projetos para o desenvolvimento do sistema de transportes nacional, abrangendo ações nos setores rodoviário, ferroviário, hidroviário, portuário e aeroportuário. Segundo o Governo, o programa foi construído com o objetivo de disponibilizar uma ampla e moderna rede de infraestrutura, obter uma cadeia logística eficiente e competitiva e gerar tarifas razoáveis. Por isso, o setor de agronegócio começou a acompanhar de perto cada passo desse projeto, mas enquanto os problemas estruturais não forem resolvidos, os executivos devem se debruçar sobre seus planos estratégicos para ultrapassar estes obstáculos.
Para cumprir o desafio de fazer com que a produção de alimentos cresça 70% no mundo, até 2050, como tem anunciado a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), é necessário planejamento estratégico, o que significa usar todos os recursos disponíveis de forma eficiente. Um passo importante para as empresas é aprofundar a colaboração com parceiros em suas cadeias de suprimento para fortalecer a eficiência operacional e avançar para operações mais flexíveis. A comunicação integrada com os principais participantes dessa rede será de vital importância, a fim de conduzir as melhorias necessárias do produto com a velocidade, qualidade e custo em um mercado cada vez mais exigente. Aqueles que enxergarem a eficácia da cadeia de suprimentos como uma vantagem competitiva terão potencial para se tornarem mais rentáveis nos próximos anos.
Ter uma cadeia de suprimentos funcionando plenamente em uma nação de dimensões continentais, com graves problemas e deficiências de infraestrutura e um sistema tributário complexo e oneroso, nem sempre é uma tarefa fácil. Por isso, na busca incessante pela eficiência operacional – que deve ser o foco constante das empresas do agronegócio que querem sobreviver e aumentar seus lucros – a área de logística deve deixar de ter um perfil estritamente operacional para ocupar uma posição estratégica nos negócios. Elevar a logística e a gestão de suprimentos a um maior nível de importância significa diminuir os custos e aumentar a lucratividade.
* Martiniano Lopes e Marcio Ikemori são sócios da KPMG no Brasil.
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