Sem acordo, Argentina dá calote que pode prejudicar o Brasil
Casa Rosada, sede da presidência da República Argentina.

A Argentina não conseguiu chegar a um acordo com os chamados “fundos abutres” e está, oficialmente, em moratória. Os “fundos abutres” são investidores que compraram a dívida argentina dos credores originais para ganhar dinheiro judicialmente. Eles estiveram em um encontro com o governo argentino nesta quarta-feira, 30, em Nova York, mas não aceitaram ceder, e continuam exigindo o pagamento integral dos débitos.

Entenda por que a crise na Argentina é ruim para o mundo.

A história toda começou em 2001, quando a Argentina deixou de pagar uma dívida de aproximadamente US$ 100 bilhões. Com o objetivo de voltar a ter crédito internacional, o governo resolveu negociar com os credores. Do total, 92,4% deles aceitaram a renegociação, que incluía um desconto de quase 70% no valor da dívida. No entanto, 7,6% destes venderam a dívida para os “fundos abutres”, que agora exigem o pagamento integral do débito.

De acordo com o ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, se aceitassem o pagamento nos mesmos termos da maioria dos credores, o lucro dos abutres chegaria a 300%. Mas não houve consenso. Sem negociação com esses 7,6%, a Argentina ficou impedida pela justiça norte-americana de pagar os outros credores e por isso está em débito.

A presidente Cristina Kirchner afirmou que ninguém pode dizer que a Argentina deu um calote, já que o dinheiro dos credores foi depositado, embora ele tenha sido devolvido por decisão judicial. Por este motivo, segundo ela, será preciso inventar outro nome para o ocorrido. “Não sei qual”, disse na semana passada.

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou ontem a Argentina para a situação “moratória seletiva”, ou seja, parcialmente inadimplente. Isso porque, fora esses credores, o país pagou a dívida do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Clube de Paris. Mesmo assim, a situação atual impede que a Argentina receba financiamentos externos e prejudica o investimento nos fundos do país.

A única solução restante está nas mãos dos bancos argentinos, que ficaram em Nova York. Eles pretendem negociar com os abutres para comprar a dívida do país.

O Brasil e a crise da Argentina

O governo brasileiro não comentou oficialmente a situação da Argentina. Mas a indústria, responsável por mais de 90% das exportações para o país vizinho, já sente os impactos dessa crise. O setor automotivo, por exemplo, responsável por quase metade das vendas, já verificou uma queda de 34% nas atividades só no primeiro semestre deste ano.

As transações Brasil e Argentina recuaram de US$ 9,3 bilhões no primeiro trimestre de 2013 para US$ 7,4 bilhões no mesmo período deste ano. A corrente de comércio entre os dois países caiu 20% em 2014. E a situação deve se agravar ainda mais. A previsão é que as barreiras de comércio na Argentina fiquem maiores para compensar as perdas que o país terá com a recessão, que já é sentida, e com a inflação que já chega aos 40%, além do isolamento internacional.

Com informações do Bom Dia Brasil, da TV Globo.

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