Juros básicos da economia em queda
“O país adota o Regime de Metas de Inflação com câmbio flutuante, num ambiente onde o governo brasileiro tem muitos fundamentos macroeconômicos para se preocupar além da inflação.”

A economia mundial passa por período de acomodação pós-crise 2008. Existe, sim, o risco não desprezível do tal efeito W no crescimento, efeito “double dip” e com riscos elevados à estabilidade financeira global. A atividade econômica mundial segue em ritmo moderado ou até mesmo negativo, com recessão em algumas economias maduras. Economias emergentes desaceleram o ritmo de crescimento. As perspectivas de crescimento são pífias para os próximos anos na maioria das economias maduras. Haverá acomodação das bolhas monetárias inseridas nos ativos reais em diversos países causados pela distorção de condutas de política monetária (gradualismo x choque) e arbitragem de juros internacionais. Há evidências de acomodação dos preços das commodities, com possível queda internacional de produtos agrícolas e aumento dos preços de metais. Observam-se condutas de política monetária dos principais bancos centrais – tanto nas economias emergentes e maduras – de forma descoordenada, apesar de certa melhora nos últimos quatro anos. Existe um amplo desequilíbrio entre contas da China e Estados Unidos.

Internamente, o Brasil está em estado de semi-estagnação, assim contextualizado:

(I) O produto (PIB) ainda cresce positivamente, mas a taxas decrescentes e com perigo de terminar o ano de 2013 entre -0,5% a 1,5% a.a [ao ano], diferente de prognósticos do governo (3% a 4%a.a);
(II) Inflação muito próxima do teto da meta, pressionado agora pela parcial do custo do aumento real do salário, em anos recentes, superiores ao crescimento de medidas tradicionais da produtividade do trabalho;
(III) Problemas graves no setor imobiliário, agora com queda forte da velocidade de vendas e falta de dinamismo para crescimento sustentado;
(IV) Estreita ociosidade no mercado de trabalho com situação de baixo desemprego (5,6%) num contexto de endividamento das famílias com o sistema financeiro nacional (43%) e crédito ainda caro, apesar da queda das taxas nos últimos anos;
(V) Baixo dinamismo do consumo das famílias pela queda do salário real, endividamento contraído em períodos anteriores e comprometimento da renda anual auferida por anos e que, por hora, o nível de desemprego baixo sustenta tal limite de endividamento;
(VI) Déficit em conta corrente (2,4% do PIB) sendo financiado pela conta capital financeira, através de investimentos estrangeiros diretos;
(VII) Ganhos salariais do trabalhador, comparado com a inflação e produtividade do trabalho, com taxas marginais decrescentes em relação a anos anteriores;
(VIII) Ativos financeiros (renda fixa e variável) e ativos reais (imóveis e terrenos) com retornos menores;
(IX) Inadimplência pessoa jurídica subindo e de pessoa física acomodada em patamares aceitáveis, mas elevados e próximo a limites perigosos;
(X) Superávit primário, apesar de positivo, em trajetória de queda;
(XI) Baixa taxa de investimento e poupança sobre o PIB;
(XII) Distribuição de renda ainda pífia.

Lembramos que o país adota o Regime de Metas de Inflação com câmbio flutuante, num ambiente onde o governo brasileiro tem muitos fundamentos macroeconômicos para se preocupar além da inflação. Lembramos também que a inflação pode ser controlada por outros mecanismos (mix de política monetária, salarial, fiscal, rigidez em crédito e controle de capitais mais rígidos em ativos financeiros e reais). O Conselho Monetário Nacional deve reduzir o centro da meta de inflação para níveis de 3 a 3,5%a.a para reduzir a taxa neutra. Como a inflação atual é transitória e não permanente, com as regras do regime de política monetária vigentes, a Selic pode continuar seu movimento de queda no segundo semestre de 2013. O oposto, se subir, como o mercado financeiro precifica, piorará o cenário macroeconômico nacional.

Mas, por que a Selic pode cair se estamos com movimento de inflação próximo ao teto da Meta? Porque existe expectativa de moderação dos aumentos salariais e menores reajustes do salário mínimo nos próximos períodos (gatilho inflação e produto) e, no horizonte não muito à frente, causará moderação de pressões inflacionárias vindas do mercado de trabalho. Consequentemente haverá o retorno/convergência da trajetória da inflação em relação à meta.

Por fim, eis aqui o mais importante parágrafo da defesa da queda da Selic: o Brasil precisa reformar o sistema educacional para aumentar a produtividade do trabalho, precisa reduzir fortemente o “custo país” melhorando a infraestrutura e logística, reduzir a pobreza, melhorar a distribuição de renda e ainda tornar-se um país mais competitivo pelo comércio internacional, depreciando a taxa de câmbio real para um melhor equilíbrio das contas externas sem muita dependência da poupança externa. O Brasil precisa reduzir o custo do investimento do setor produtivo e dar expectativas positivas ao investidor financeiro para que este fundamente seus investimentos de longo prazo e, que, socialmente falando, será saudável para todos.

*Este texto foi originalmente publicado no site do Cofecon (Conselho Federal de Economia).

**Luciano D’Agostini é economista (2002), Mestre (2004) e Doutor (2010) pela Universidade Federal do Paraná.

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