O olhar do investidor
Esteja preparado para enfrentar observações do tipo: “Como você espera atingir esse volume de vendas com essa equipe?”; “O seu colega não é necessário na empresa?”; “Essa tecnologia está imatura. me procure daqui a três anos”
Estive recentemente no Global Moot Corp, a maior competição mundial de planos de negócios entre alunos de MBA do mundo, que ocorre há 27 anos na Universidade do Texas, em Austin, nos EUA. Observei os seguintes aspectos que o investidor valoriza ao avaliar ideias de empreendimento:
O modelo de negócio deve estar bem definido. Você pode ter um produto inovador, consumidores ansiosos para comprá-lo, capacidade técnica; mas se não conseguir demonstrar como atingir esse mercado, ninguém vai investir em você. Não pode haver pontas soltas. O investidor quer ter a segurança de que a lógica do empreendimento como um todo funciona bem. O grande desafio é conseguir dominar toda a diversidade de aspectos de um novo negócio e apresentá-lo em apenas 15 minutos.
Retorno sobre o investimento. Não adianta apresentar uma ideia que vai melhorar a vida das pessoas ou recuperar o ambiente se essa ideia não estiver atrelada a altos retornos sobre o investimento. Muitos projetos fracassam por tentar explorar o apelo da emoção, quando os juízes querem ver os números antes de se sensibilizarem.
O empreendedor antes da ideia. O investidor quer conhecer o empreendedor, ver como ele se apresenta, saber como ele defende sua ideia e reage aos questionamentos. Além disso, o investidor quer saber se a formação e a experiência do empreendedor são condizentes com a função que ele ocupará no negócio, se todas as competências necessárias foram garantidas ou encaminhadas e, sobretudo, se o empreendedor está disposto a abandonar seu emprego ou atividade atual para se dedicar exclusivamente ao novo negócio, caso consiga o investimento requerido.
Negócios grandes de crescimento rápido. Investidores de risco não se interessam por negócios pequenos. Querem sempre saber qual é o potencial de escalabilidade da operação – e ver um plano de expansão que cubra no curto prazo parte considerável do mercado. Eles têm dinheiro, querem crescer e fazer sua retirada rapidamente. Se o produto ainda está em fase de testes e as vendas vão levar mais um ano para começar, então o investidor pede para o empreendedor procurá-lo no futuro.
Não existe mágica. Se algum empreendedor aparece com a cura do câncer, um negócio fantástico, tudo pronto para começar já e ganhar muito dinheiro, o investidor desconfia. Mesmo se há uma grande revolução na frente dele, seu papel é duvidar e questionar. Se o mercado já existe, ele vai querer saber qual o estágio de evolução do produto, onde já foi testado, quais certificações foram obtidas, se a patente foi registrada. Além disso, todo negócio possui riscos. Se o empreendedor disser que nada de errado vai ocorrer e que ele já previu tudo, então o investidor nem prossegue a conversa. Outro aspecto: estimativa de preço e projeção de vendas costumam ser superestimadas e despertam descrença.
Credenciais são importantes. Declarações de pessoas de grande influência na área que apoiem o empreendedor e emprestem a reputação para dar crédito à ideia são uma ferramenta poderosa para convencer um investidor que não domina tecnicamente o setor. Ter uma dessas referências no conselho consultivo da empresa é ainda melhor. Cartas de referência, artigos elogiosos e cartas de intenção de clientes também ajudam a dar credibilidade ao negócio. Todas as informações do setor e do mercado devem ter suas fontes mencionadas para não parecer que é somente uma opinião do empreendedor.
Por Marcos Hashimoto
Coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper
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