Basicamente, pode-se agregar à Economia duas orientações básicas: 1) Ser funcionalista; 2) Ser dialética.
No que concerne às funções vitais (ser funcionalista), a Economia se apresenta em algumas dimensões próprias, a saber: estuda o comportamento dos homens; estuda o processo de escolhas; estuda os conflitos entre a existência de recursos limitados e o atendimento aos amplos, diversificados e ilimitados desejos das pessoas; estuda as diferentes possibilidades de produção. A função vital dessa ciência, na essência, guardadas suas sutilezas, é a de proporcionar satisfação às pessoas.

Quanto à sua orientação em ser dialética, no sentido de provocar a discussão (o diálogo), ainda que em tom laudativo ou pejorativo, as Ciências Econômicas ganha um aspecto mais interessante, pois nem sempre (ou quase nunca) há consenso entre os economistas. Não por acaso, a arte da discussão entre os economistas, em sentido geral, é um dos pontos que mais chama a atenção dos observadores. Tomemos, nesse pormenor, a discussão em torno da questão conflitante ou amistosa entre o campo econômico e o social.

Há alguns que consideram os mercados, por exemplo, como construtores do campo social. Esses enxergam que os mercados operam, sempre, de modo o patrocinar o bem comum. Outros, no entanto, entendem que os mercados são sempre gerados de crises, promovendo, por conseqüência, uma convivência conflituosa com o aspecto social.

A partir disso, uns buscam construir uma economia civil (civil economy), enquanto outros pautam a realidade econômica apenas no lado mercantil. Os que defendem o mercado como elemento de construção da harmonia, entendem que sempre há e haverá sintonia do mercado com o aspecto social. Para os que se colocam numa posição contrária, o mercado dificilmente tende a promover a experiência da sociabilidade humana dentro da vida econômica normal. Para uns, a teoria econômica está correta em ser centralizada nas mercadorias – e no mercado; para outros, a base de fundamentação técnico-teórica da economia é a vida humana, com todas as suas manifestações: trabalho, lazer, bem-estar, bem viver, consumo, produção etc.
Dentro dessas manifestações emerge uma importante pergunta: afinal, qual é o horizonte da economia? Em nosso entendimento, o horizonte da economia é um só: a construção de uma nova sociedade.

Acontece que construir uma nova sociedade significa, pormenorizadamente, promover a libertação do homem – principalmente do jugo econômico. O certo é que só há possibilidade de se construir uma nova sociedade, caso “nasça” um “novo homem”. É nesse sentido que ganha relevância ímpar a relação entre a Teologia e a Economia.

Da relação dessas ciências, que para muitos pode não fazer sentido, dois aspectos se realçam. Se entendermos que os modos de pensar da teologia e da economia se afirmam para com as questões que envolvem o viver, teremos claro que não se pode furtar dos fundamentos implícitos localizados na seara teológica e também econômica. Quais são esses fundamentos e quais os dois aspectos de maior realce dessa relação entre a Teologia e a Economia?

Ora, para se viver é necessário produzir bens e serviços. Isso cabe, estritamente, à Economia. O segundo aspecto está relacionado à pobreza – em especial à condição de ser pobre.

Não percamos de vista que a Teologia, essencialmente, faz votos de luta em defesa dos pobres. São eles – e ninguém mais – a figura de principal preocupação dos estudos teológicos. Pois bem, do lado dos estudos econômicos, entra-se numa discussão de quem (ou do quê) gera pobreza. É certo, todavia, que a pobreza não é uma condenação divina, mas, antes, está eivada de condições econômicas que decidiram por sua existência. Na essência, isso significa dizer que ninguém é pobre por opção, mas todos os que são, assim são por forças econômicas impostas.

Logo, apenas e tão somente por esses dois aspectos, a relação entre a Teologia e a Economia deve ser cada vez mais salientada.

É interessante trazer aqui, nessa discussão, uma passagem do teólogo peruano Gustavo Gutierrez quando afirma que “ser cristão hoje na América Latina é preocupar-se com o lugar onde os pobres dormirão”. De igual monta, cabe adaptar essa contextualização para o aspecto econômico e se preocupar com o que os pobres comerão – se é que terão a oportunidade de comer algo.

Nessa mesma linha de pensamento, nosso dom Hélder Câmara certa vez disse que: “Quando dou comida para os pobres [eles] me chamam de santo. Mas, quando pergunto por que os pobres não têm comida [eles] me chamam de comunista”.

Sabemos muito bem quem são “eles” a quem dom Hélder se referia. Resta apenas fazer com que [eles] não atrapalhem mais a condução da economia para a realização de seu verdadeiro horizonte: construir uma nova sociedade.

Por: Marcus Eduardo de Oliveira
Economista e professor. Articulista dos sites “O Economista”, “Portal EcoDebate” e Agência Zwela de Notícias (Angola). Os artigos desse autor em torno de questões econômicas têm sido amplamente publicados no Brasil e no exterior, com destaque em Portugal, Cabo Verde, Timor Leste e Angola.

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