Gustavo Cerbasi participou de um bate-papo na Livraria Curitiba, em Joinville

Para Gustavo Cerbasi, o segredo é tratar de finanças com simplicidade. Para falar um pouco mais sobre isso, o consultor financeiro esteve nesta quarta-feira (28) em Joinville, onde participou de um bate-papo com o público. Cerbasi é autor de livros como “Mais tempo, mais dinheiro”, “Cartas a um jovem empreendedor” e do Best–seller “Casais inteligentes enriquecem juntos” e falou à equipe de O Economista sobre os erros e acertos de quem busca uma vida financeira estável.

Ele é mestre em Administração e Finanças, pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com especialização em Finanças pela Stern School of Business – New York University e pela Fundação Instituto de Administração (FIA).

Em seu site, disponibiliza planilhas e simuladores para controle de orçamentos, além de divulgar seus livros, cursos e palestras que faz por todo o Brasil. Sua experiência acadêmica e prática é voltada à área de finanças dos negócios, planejamento familiar e economia doméstica. Cerbasi é colunista das revistas Você S/A e Nova e do programa Transnotícias, da Rádio Transamérica.

1.    Boa parte de seus livros e capacitações são direcionados para o público em geral, sem exigência de conhecimento em finanças, matemática ou economia. De que maneira você escreve para que a linguagem torne-se acessível a todos?

Eu fujo do “economês”, porque tive o privilégio de conquistar na minha carreira uma posição de conforto e sucesso que fez com que eu pudesse dispensar o uso da linguagem técnica e elaborada. Então, acabo me portando mais como leigo no assunto, como alguém que não conhece o negócio da outra pessoa. Eu posso dar uma palestra para empresários do setor agropecuário, por exemplo, mesmo sem entender muito de agropecuária. Isso porque vou falar como uma pessoa que reflete sobre ideias, que reflete sobre erros. As pessoas acabam recebendo muito bem, porque elas não esperam que eu seja um especialista. Assim, consigo usar uma linguagem mais descompromissada, podendo dizer ‘eu não sei’ determinado assunto, porque não me obrigo a ser expert naquilo. Eu só sou expert nos questionamentos que levam a boas escolhas financeiras. Não costumo entender do mercado e de estratégias financeiras de um negócio específico e, por isso, acabo abrindo espaço para perguntas que não sei responder, mas com as quais me comprometo para apresentar a resposta em um segundo momento.

Sendo um provocador de discussões, eu me dou o direito de procurar respostas em lugares que não conheço e com isso formular ideias que são aplicáveis a todos os mercados. Por exemplo: em 2005, fiz uma palestra para plantadores de soja em Vilhena, Rondônia. Então, o primeiro cuidado que tive foi pesquisar o comportamento do preço da soja nos últimos 20 anos. Encontrei um mercado representado por um sobe e desce de preços e, por perceber esse comportamento histórico em dólar, vi que a soja estava em um patamar de valores equivalente a um recorde histórico. A percepção local, no entanto, mostrava que os plantadores de soja estavam eufóricos e prevendo um enriquecimento de quem tivesse investido nos últimos dois anos (2003 e 2004). Lá, a mensagem que eu fui transmitir é que a soja estava para entrar num ciclo de perda de preço, porque era isso o que o histórico que eu tracei mostrava. Alguns me questionaram, mas demorou cerca de três meses para que o preço da soja realmente despencasse. Foi aí que me chamaram para uma segunda palestra porque queriam que o “conhecedor do futuro” voltasse lá para dizer o que iria acontecer.

Isso aconteceu porque as pessoas não se deram ao trabalho de fazer a “lição de casa” e tentar entender o que ia acontecer no mercado; esse material eu encontrei na internet, era informação gratuita. Essa simplicidade, então, acontece porque eu tento encontrar regras que sirvam para qualquer situação, para qualquer mercado. Ficar rico plantando soja requer os mesmos conhecimentos do que ficar rico criando gado, investindo em ações ou trabalhando em qualquer outra coisa. São alguns ingredientes que fazem parte de qualquer estratégia de crescimento que eu procuro encontrar. Não preciso tratar de forma específica um só mercado para provar que eu conheço daquele mercado.

2.    De que forma essa simplicidade lhe faz ficar receptivo a outras possibilidades de estudo?

Sou uma pessoa comum que recebe perguntas de pessoas comuns e que igualmente esperam de mim respostas simples. O que eu vejo frequentemente entre especialistas é que as pessoas se sentem tímidas frente aos experts, por medo de fazerem alguma pergunta e se passarem por ignorantes, por não dominarem aquele assunto. Então, é muito comum que em palestras poucas pessoas participem e as demais fiquem apenas “admirando” aquilo que os outros perguntaram. É aí que acabam surgindo muitas dúvidas que não são respondidas. Eu aprendi isso em sala de aula e não ministrando palestras. Nas primeiras aulas que eu ministrei, fui convidado a lecionar disciplinas de revisão para alunos de pós-graduação, que tinham recebido aulas de finanças e que estavam insatisfeitos, com medo de provas. Percebi que com esses alunos eu poderia ter um tratamento diferenciado, porque eu não era um expert em finanças. E isso é a minha realidade até hoje. Eu tento não me aprofundar muito tecnicamente para manter uma linguagem adequada para todos os públicos.

3.    Você citou o exemplo do casal que começa a ter problemas para organizar sua vida financeira. Quais são as principais dicas que o livro “Casais inteligentes enriquecem juntos” dá para os recém-casados?

Muitos maridos chegam com o livro “Casais inteligentes enriquecem juntos” pedindo que eu autografe para sua esposa para que ela aprenda a gastar. No autógrafo, primeiro eu coloco o nome do marido para que ele leia antes e a primeira recomendação é: se a sua esposa quebra as contas da família toda a vez que ela vai ao shopping, peça a ela que vá ao shopping com mais frequência. O comportamento compulsivo, o comportamento exagerado de consumo, normalmente acontece por repressão de uma vontade. Quando aquela pessoa não compra com freqüência, tudo para ela parece ser necessário. Esse tipo de comportamento faz com que a situação financeira da família arruíne. Ter o hábito de comprar com mais freqüência é o primeiro passo para gastar menos. Mas isso não quer dizer que a pessoa vai adquirir menos coisas, quer dizer que ela vai comprar com mais eficiência e vai ter uma vida financeira mais disciplinada. Esse bom senso falta à população e aos empresários também.

Minha dica para que casais inteligentes enriqueçam juntos é que as pessoas levem ao pé da letra o título do meu livro. Os casais precisam atuar juntos, com união de pensamentos. O auto-conhecimento vem da inteligência. Casais inteligentes, que se conhecem, que sabem falar dos seus sonhos, falar sobre vontades, sobre temores, podem estabelecer metas e com base nelas, estabelecer planos. Quando eu falo o que eu preciso fazer, automaticamente eu vou encontrar os obstáculos que me impedem. Esse casal que se conhece consegue unir forças na hora de fazer investimentos conjuntos, e é por isso que casais inteligentes enriquecem juntos.

4.    Quais são os principais erros da gestão do tempo e do dinheiro?

O principal erro acontece quando a pessoa não consegue se organizar para conhecer, tanto o seu mapa de consumo, quanto sua agenda pessoal. A maioria das pessoas sabe que em determinado dia terão uma consulta ao médico, por exemplo, mas elas não sabem a que horas vai fazer uma caminhada, se preparar para uma reunião, etc. Se as pessoas se preocupassem em mapear o seu tempo, elas veriam que não adianta tentar planejar sete ou oito compromissos em um dia. É preciso colocar no máximo dois ou três compromissos no dia porque é necessário estar com cabeça preparada para ir bem naqueles dois ou três compromissos.

Sobrecarregar o orçamento também é outro erro. Quais são as grandes preocupações dos recém-casados, por exemplo? Pagar a casa, pagar o plano de saúde, pagar o carro. As pessoas ignoram quando recém casadas que até então o orçamento era individual. Então, quando se passa a construir uma rotina burocrática no orçamento, se esquece do lazer e da qualidade de vida. ‘Se sobrar tempo, se sobrar dinheiro, eu faço’. Então, o prazer acaba sendo excluído da rotina. Isso vale para o tempo também, se não há tempo para o prazer, para o bem estar, as pessoas só terão tempo quando surgir a exceção do tempo disponível. Então, a vida passa a ser muito burocrática. É preciso saber dedicar tempo e dinheiro fixo para o lazer e para o consumo prazeroso. Há opções de planos de saúde mais baratos, para que se tenha uma vida mais prazerosa e se dependa menos de planos de saúde. Do ponto de vista do tempo, é preciso aprender a restringir a agenda, aprender a dizer não. É uma lógica em que se busca por uma vida mais simples, do ponto de vista do tempo e do dinheiro, para que essa vida seja mais rica, mais produtiva e mais gratificante.

5.    Você acha que é um hábito do brasileiro a dificuldade em organizar sua vida financeira?

Não é um hábito do brasileiro, é um hábito da economia brasileira. O brasileiro aprendeu a viver em uma realidade da inflação elevadíssima. Os mais jovens de hoje em dia já nasceram em uma realidade estável e já passaram a ter uma vida profissional numa economia mais estável. Nas gerações anteriores a economia era muito instável: as pessoas não sabiam qual ia ser seu salário no mês seguinte. A regra era o estoque: gastar tudo no menor prazo possível, deixar muitas coisas estocadas, para não perder dinheiro na inflação. Comprar uma vez por mês era a regra.

Hoje, se formos mapear as famílias que usam cheque especial no Brasil, veremos que todas elas têm cerca de 150 reais parados em suas dispensas. Falta consumir com mais freqüência e com um dinheiro que as pessoas saibam que disponibilizaram para aquilo, com uma verba conhecida, com planejamento e orçamento.  Atualmente é possível saber onde se gasta, para trabalhar em cima do exagero, para verificar onde está o erro e para que o dinheiro não falte. Falta planejamento, falta essa disponibilização de verba para que as pessoas tenham consciência do quanto gastam.

Confira abaixo um podcast com Gustavo Cerbasi.

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