Novo 2008 dois anos depois?
Quem viveu os piores momentos de 2008 deve estar se perguntando quanto à possibilidade da repetição daquela bagunça nos mercados agora em 2010. Muitas coisas se assemelham e alguns componentes, inclusive, agravam as perspectivas para as bolsas de valores nessa crise atual.
Na minha ótica, há duas diferenças básicas nos ‘approachs’ do caos gerado pelo subprime americano e a insolvência, no momento controlada, dos países europeus.
Lembro-me que nos primeiros meses de 2008 se falava em uma bolha imobiliária nos Estados Unidos que poderia contaminar os balanços dos bancos. As bolsas respondiam com quedas fortes seguidas de altas da mesma intensidade. Ainda estávamos no ‘pode acontecer’ e, dessa forma, as forças compradoras e vendedoras se equilibravam – até que, ironicamente, recebemos o Investment Grade e demos nosso último suspiro.
Logo após a certificação internacional de segurança para investimentos recebida pelo Brasil, o mundo foi apresentado aos bancos de crédito imobiliário americano Fannie Mae e Freddie Mac, que deram início à maior intervenção estatal já vista no mundo. E nos meses seguintes se juntaram ao time Bank of America, JP Morgan, Morgan Stanley, Citi Group, todos agraciados pelo capital público, exceto o Lehman Brothers, escolhido como exemplo.
Impensável, mas necessário, e no quesito agilidade os americanos não relutaram em lançar pacotes trilionários de salvamento da Grande América – apesar da grande insatisfação da sociedade. E é nesse ponto que a crise européia preocupa tanto: as autoridades do Velho Continente se mostram desarticuladas, lentas e relutantes, retalhadas em um egoísmo decorrente de disputas seculares; é cada um tentando salvar a si mesmo.
No caso da derrocada europeía, as notícias surgiram sorrateiramente, colocando a Grécia como a grande vilã da história. Talvez pela pequenez econômica desse país – além do turismo, as receitas são obtidas pelas exportações de azeitonas e queijo -, as bolsas reagiram com quedas isoladas, mas que naquele primeiro momento não comprometeram o ‘momentum’ positivo dos mercados acionários. O ponto decisivo para o maior entendimento da intensidade da crise foi, sem dúvida, o rebaixamento dos ratings de países europeus.
A partir daí, uma forte especulação sobre o euro ocasionou a derrocada de sua cotação e, por conseguinte, dos preços das commodities, levando as bolsas a reações mais veementes quanto às dificuldades da Europa. Sem contar que com a fragilidade da moeda européia, o dólar se fortalecerá, prejudicando a competitividade da produção americana – o que levará à diminuição da arrecadação interna e risco de desemprego com crise de baixo consumo interno.
Com a Grécia declaradamente insolvente, outros países da região sob forte suspeição de estarem nas mesmas condições, descoordenação das autoridades do Velho Continente em lidar com a situação e a propensão já expressa pela prêmier alemã de controlar o mercado financeiro com mão de ferro é evidente que as bolsas sofrerão nos próximos meses perdas bastante substanciais.
No caso do Brasil, há dois aspectos importantes: primeiro, que sempre amplificamos as perdas lá de fora; segundo, que com ganhos impensáveis oriundos de 2009, os estrangeiros tenderão a fazer uma bela limpeza na Bovespa, não apenas pelas incertezas na Europa, mas sobretudo para fazer caixa para cobrir prejuízos lá fora.
Não é possível dimensionar a crise a ponto de afirmar em que patamar de perdas chegaremos, mas questões culturais influindo nas tomadas de decisões, a própria gravidade do problema e a grande possibilidade de efeitos substanciais na economia mundial corroboram a tese de prejuízos muito fortes para as bolsas do mundo todo. As vendas simbolizam, nesse momento, o instinto de sobrevivência do capital.
Por: Artur Salles Lisboa de Oliveira
Comentários
Ainda não há nenhum comentário para esta publicação. Registre-se ou faça login e seja o primeiro a comentar.