inflação

Falar de superação para a crise requer também uma avaliação da atual resposta do setor privado na indução do crescimento econômico. Nesse sentido, a pesquisa de contas trimestrais do IBGE, publicada recentemente, trouxe-nos um dado preocupante sobre a trajetória dos investimentos produtivos no Brasil. Os números dão conta de que, apesar de um ensaio de recuperação da economia no trimestre anterior, os investimentos em ativos fixos (máquinas, equipamentos e capital físico) continuam em queda no país, com redução de cerca de 30% nos últimos três anos.

O que nos preocupa nessa pesquisa é a ausência de resposta do setor privado após a melhora nos indicadores que medem as expectativas. É um cenário paradoxo. Porque, de um lado, o nível de confiança do empresário industrial (calculado pela CNI) elevou-se 50% nos 12 meses anteriores a setembro. Porém, de outro, a formação bruta de capital físico da economia brasileira está em queda de 3% no terceiro trimestre do ano. Nesse sentido, talvez o setor produtivo não esteja tão otimista assim.

A lógica prevalecente é a de que a retomada do crescimento ocorrerá da resposta da reestruturação de contas públicas sobre expectativas empresariais e, por conseguinte, impulsionando investimentos. Parte da ideia de que a crença de um cenário futuro melhor levaria as empresas a ampliar os investimentos produtivos no presente, fomentando o emprego e a renda. O problema é que o ajuste das contas públicas já começou, o termômetro do otimismo subiu, mas a resposta de crescimento nos negócios do setor empresarial ainda não ocorreu.

O ganhador do Prêmio Nobel em Economia, Paul Krugman, é um dos críticos à chamada crença da “fada da confiança”. No artigo publicado no Jornal The New York Times, em 2012, o autor questionou a capacidade de as políticas de austeridade europeias conseguirem promover sozinhas a recuperação econômica de alguns países, pelos mecanismos de expectativas e investimentos.

A questão que pontuamos aqui não é exatamente sobre a austeridade. O ponto de nossa reflexão é a capacidade das “expectativas” em impulsionar sozinhas a recuperação. Porque o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), no chamado monitor fiscal, alertou sobre o crescimento da dívida de empresas não financeiras e de famílias brasileiras na última década, com expansão de mais de 35% do PIB entre 2005 e 2015.

Talvez por força do endividamento. Talvez porque as empresas ainda não estejam tão otimistas assim. Mas o fato é que ainda não tivemos a resposta desejada. E o que preocupa é que o atual quadro de vulnerabilidade das finanças públicas também retirou capacidade estabilizadora do Estado, de ampliar investimento público e induzir crescimento econômico.

Com o dever de casa das contas públicas em dia, o caminho para superação depende da agenda positiva. E isso se traduz em desatarmos as amarras que impedem o crescimento das exportações. O comércio internacional pode amenizar a queda do consumo doméstico. Devemos também atrair os capitais privados para realização de parcerias de investimento com setor público. A atividade construção, com 7% do valor adicionado da economia, pode ajudar a estancar a queda do desemprego e promover a ampliação do consumo interno. São caminhos para maior otimismo e promoção do progresso social.

* Eduardo Araújo é economista e presidente do Corecon-ES

Este texto foi publicado originalmente no site da Cofecon.

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