O Comitê de Política Monetária (Copom) define hoje (11) a taxa Selic sob pressão por uma redução mais agressiva dos juros básicos, depois da divulgação, ontem, da retração de 3,6% no crescimento da economia brasileira no quarto trimestre de 2008. Na última reunião, em janeiro, os juros básicos foram reduzidos de 13,75% para 12,75% ao ano.

Até mesmo analistas mais conservadores, como o economista-chefe do Banco Santander e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartzman, defendem um corte maior de juros. Ontem, ele afirmou que expectativa é de um corte de 1,5 ponto percentual e não mais de um ponto percentual, como vários economistas previam antes.

Por conta da crise financeira internacional e a conseqüente desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, um corte maior dos juros é visto como forma de estimular a economia, em um momento em que a pressão inflacionária se reduziu. O especialista americano Robert Guttmann defendeu, no último dia 6, em um seminário em Brasília, a redução dos juros, mas de forma mais ousada, uma vez que outros países reduziram os juros básicos a percentais próximos de zero e no Brasil a Selic é uma das mais altas do mundo.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no entanto, deixou um recado, no último dia 5: a redução dos juros só pode ser feita com responsabilidade. A frase foi dita antes do anúncio do PIB, feito ontem.

No entanto, assim como Schwartzman, o economista e professor da Universida de Brasília (UnB) Dércio Munhoz não considera que a redução dos juros surta tanto efeito na oferta de crédito e no crescimento da economia.

Para Munhoz, a Selic menor terá efeito mais forte somente nos gastos que o governo tem com o pagamento dos juros da dívida pública. A Selic é a principal taxa de remuneração dos títulos públicos. “A redução da Selic não muda a essência do problema nesta altura”. Ele afirmou que a crise trouxe problemas ao país que não dependem somente da Selic para serem resolvidos, como o recuo das exportações, redução de investimentos privados e perdas de ativos financeiros.

“A única coisa que se salva é a demanda das famílias por bens e serviços, mas esses três problemas anteriores geram perdas de emprego”, afirmou Munhoz. Ou seja, a renda dos brasileiros seria uma forma de estimular a economia, mas com a redução do emprego, a massa salarial (soma de todos os salários pagos) também se reduz. “O governo precisa adotar medidas para reestabelecer a demanda”, defende.

Além de economistas que esperam por maiores cortes da Selic, o Banco Central também conta com a pressão de representantes de trabalhadores ligados à Força Sindical, que acamparam ontem em frente ao Banco Central para protestar pela queda dos juros. Até entre representantes do governo há expectativa de cortes de juros maiores. Hoje, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse que acharia “ótimo” se o Copom pudesse reduzir a taxa básica de juros para um patamar inferior a 10% ao ano

Ontem, depois da divulgação do resultado do PIB e às vesperas da reunião de decisão do Copom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu de última hora com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Não foi informado o teor da reunião.

A reunião do Copom é realizada em dois dias, terça e quarta-feira no período do tarde. Na reunião desta tarde, serão analisadas pelos diretores do BC as projeções para a inflação, uma vez que a Selic é usada pela autoridade monetária como instrumento para controlar a inflação.

Após essa avaliação, os diretores de Política Econômica, Mario Mesquita, e de Política Monetária, Mario Torós, apresentam alternativas para a taxa de juros e fazem recomendações. Os outros diretores também fazem comentários e propostas e por fim eles decidem os juros. A nova taxa de juros básicos é divulgada depois do fechamento do mercado financeiro. Na quinta-feira da próximo semana, o Copom divulga a ata da reunião com as explicações sobre a decisão.

Quando a taxa Selic cai, os bancos são estimulados a emprestar mais dinheiro em vez de investir nos títulos públicos, remunerados pelos juros básicos. Além disso, a Selic alta aumenta o custo do crédito que os bancos oferecem, uma vez que ela serve de referência para as taxas de juros cobradas dos clientes.

Agência Brasil / Kelly Oliveira

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