O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que, depois da crise financeira global, o mundo será diferente e a dinâmica da economia mundial será outra. Segundo ele, os países que já tinham dado outra dinâmica à economia saíram na frente.

“Por que a China continua com o crescimento positivo? E a Índia?”, perguntou Mantega, para mostrar que os integrantes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) já estavam com outra dinâmica, diferentemente dos países europeus.

Ao participar da divulgação de um documento sobre a economia brasileira elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), o ministro ressaltou que os países europeus e os Estados Unidos é que precisam fazer muitas reformas e mostram pouco dinamismo na economia.

“Os Estados Unidos vêm vivendo há muito tempo com déficit interno e externo. Isso não dá. Nós, aqui, acumulamos reservas e não perdemos na crise. Os países avançados deveriam caminhar para o novo modelo colocado pelos países emergentes”, afirmou Mantega. Segundo ele, o novo modelo tem maior equilíbrio nas contas públicas e nas contas externas e alguma participação do Estado, além de maior regulamentação financeira e dos bancos públicos.

Mas agora os Estados Unidos já têm bancos públicos [referindo-se à intervenção do governo americano para salvar as instituições financeiras], então está tudo mais fácil. Tem bancos públicos e empresas públicas sendo assim terão mais instrumentos de política monetária”, afirmou.

O secretário-geral da OCDE, o mexicano Ángel Gurría, elogiou o Brasil pela expectativa de criação de 600 mil a 700 mil empregos e lembrou que só os países membros da organização devem perder aproximadamente 30 milhões de postos de trabalho até o final de 2010. Ele disse que, conforme estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em todo o mundo, as perdas dever chegar a cerca de 60 milhões de empregos.

“É difícil de calcular, pois a Índia, por exemplo, tem 90% dos empregos na informalidade, mas, quando o ministro fala sobre o crescimento no Brasil, é importante fazer essa comparação com o que está ocorrendo nos outros países”, disse Gurría.

Ele esteve no Ministério da Fazenda para apresentar o trabalho da OCDE Brazilian Economic Survey 2009, que estima crescimento econômico de 4% no país em 2010. Para 2009, a projeção é de -0,8%. A inflação terminaria nesses dois anos em 4,2%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor e o déficit em conta corrente, em US$ 18 bilhões e US$ 22 bilhões, sucessivamente. Em percentual do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), representaria -1,3% e -1,4%.

O documento diz ainda que, embora o Brasil não tenha saído ileso da crise econômica, a recuperação em curso deverá ganhar maior ritmo agora, na segunda metade do ano, e em 2010. O país continuará a consolidar a política macroeconômica, combinando metas inflacionárias, políticas de câmbio flutuante e de gestão orçamentária, além de responsabilidade na administração das contas externas, o que tem permitido ao país se recuperar da crise. A OCDE sugere ainda que o país reduza as metas de inflação em 2011.

Mantega rebateu as críticas do relatório da OCDE sobre o crescimento dos gastos públicos no Brasil. Ele negou esse tipo de problema no país e, bem-humorado, disse que não se deve dar confiança ao que dizem os comentaristas. “Se você ouviu que estamos com problemas fiscais, não acredite nesses comentaristas”, afirmou o ministro, dirigindo-se a Gurría.

Sobre a destinação dos recursos da exploração do petróleo na camada do pré-sal, o ministro esclareceu a Gurría que o governo ainda estuda o que fazer com essa futura receita. Segundo Mantega, os recursos irão para o Fundo de Desenvolvimento Social, com um parte sendo aplicada na área social, mas as ideias que ainda precisam ser aprovadas pelo presidente da República.

“Temos ainda que fazer muitos investimentos em educação no Brasil, que deixou de investir no passado e tem que recuperar o tempo perdido. Tem a saúde etc”, ressaltou o ministro. De acordo com ele, a outra parte será capitalizada e irá para investimentos.

Daniel Lima – Agência Brasil

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