10 de dezembro de 2002. Hotel de Washington. Reunião entre Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito, Antonio Palocci, futuro ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, deputado federal eleito.

Lula, saindo de encontro com George W. Bush, convida o ex-presidente mundial do BankBoston para comandar o Banco Central. Meirelles é o sexto a ser convidado ao cargo, cheio de riscos pela imprevisibilidade petista e porque a própria eleição de Lula nocauteara o real e a Bovespa.

Ao ser convidado por Palocci, Meirelles pergunta se teria autonomia no cargo, imprescindível para a credibilidade da política monetária. A resposta, segundo relata Palocci, vem pessoalmente de Lula: “Você vai ter toda autonomia para trabalhar, nós confiamos em você”.

No dia 12 de dezembro, instantes antes de anunciar o “companheiro” Meirelles como presidente do BC, o dólar fecha a R$ 3,79.

O resto é história, para lá de controversa e conturbada.

Mas não pode haver controvérsia sobre os números de inflação, juros e crescimento nesses seis anos da relação Lula-Meirelles: a inflação foi baixa, o crescimento foi relativamente alto e os juros também.

Nessa conjuntura, o Brasil cresceu a 6,8% no trimestre de julho a setembro na comparação com o mesmo período de 2007, após os juros terem subido de 11,25% em abril a 13,75% em setembro justamente por causa desse crescimento asiático que pressionava a inflação brasileira.

Mas a crise econômica expandiu-se brutal e velozmente pelo planeta, desencadeando reações extremadas dos índices e dos dirigentes econômicos.

No Norte rico, epicentro do terremoto, Bancos Centrais derrubam os juros para ressuscitar o crédito e a atividade econômica. Na periferia, porém, os países têm realidades particulares. Nem tudo o que é bom para o Federal Reserve dos EUA é necessariamente bom para o Banco Central do Brasil.

10 de dezembro de 2008. Exatos seis anos depois da promessa de Lula a Meirelles (“toda autonomia para trabalhar”), o Comitê de Política Monetária do BC reúne-se para definir a taxa de juros.

A pressão do governo Lula (aquele que quer enquadrar as agências reguladoras sob os ministérios respectivos) em cima da autoridade monetária (aquela que precisa ter autonomia de fato para ser eficiente) é brutal. O BC, apesar da pressão, mantém os juros a 13,75%, embora sinalize a possibilidade de corte em janeiro.

Já ouvi ex-diretor do BC dizer que as pressões políticas, se algum efeito têm no Copom, é o de reforçar a posição contrária à pressão para que a posição de autonomia não se abale, sendo o valor da autonomia maior do que, por exemplo, 0,25 ponto de oscilação dos juros numa taxa básica de 13,75%.

Desde o plano real, de 1994, e depois das trágicas aventuras econômicas heterodoxas pós-democratização, ficou provado até para alguns petistas que a estabilidade econômica tem valor imprescindível.

Foi ela que nos trouxe ao crescimento virtuoso no já saudoso terceiro trimestre, enriquecendo ricos e pobres e tornando Lula ainda mais o mais popular presidente desta era política.

A autonomia do BC é fundamental para a economia brasileira alcançar seu potencial. Estávamos indo bem, mostram os números do terceiro trimestre, incontestes. O resto são hipóteses.

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, “A Árvore” (1986) e “Carô no Inferno” (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
E-mail: smalberg@uol.com.br

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