O ambiente recessivo da economia mundial gerou dúvidas entre as indústrias brasileiras nas decisões sobre aumento de investimentos. No entanto, os investimentos continuarão em alta, só que em ritmo menor, conforme mostra a pesquisa Sondagem de Investimentos da Indústria, publicada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O levantamento foi feito entre os dias 15 de abril e 29 de maio deste ano. Foram consultadas 820 empresas de 24 estados, com faturamento conjunto de R$ 451 bilhões e participação de 23,6% nas exportações brasileiras. Metade delas apontou incertezas sobre a demanda como principal entrave ao aumento de seus investimentos. Esse universo é o maior da série histórica desde 2004, segundo destaca nota da FGV.

Quando perguntadas se enfrentavam dificuldades para investir, 87% das empresas responderam que sim, o dobro das que estavam nessa situação em igual período do ano passado (43%). Na enquete sobre o principal objetivo para realização dos investimentos, a maioria (36%) manifestou intenção de aumentar a eficiência produtiva. Essa foi a maior proporção desde 2002 (43%).

Quanto a programas de investimento, 26% das indústrias consultadas disseram que não tinham esse tipo de plano – maior índice registrado na pesquisa desde 2003 (28%). Já 24% manifestaram intenção de aumentar a capacidade de produção, apesar de apenas 14% terem anunciado metas de modernização do parque fabril por meio da troca de máquinas.

Além do temor com a possibilidade de redução das encomendas, os empresários apontaram a falta de recursos como fator de limitação dos investimentos, citada por 35% dos consultados. Em seguida, aparecem as empresas que se queixam do peso da carga tributária (29%). Mas essa frequência mostra que esse custo já não é tão revelante assim nas decisões de investimentos, porque esse percentual é o menor da série histórica.

A explicação é o estímulo fiscal dado a alguns segmentos, como a indústria automobilística, com a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), conforme apontou o coordenador da pesquisa, Aloiso Campelo. O economista informou que, pela primeira vez, a pesquisa mostra a evolução dos investimentos, seguindo o mesmo modelo adotado pela Comunidade Europeia.

“As previsões são otimistas”, disse Campelo. Isso porque, mesmo diante das incertezas, as indústrias pretendem continuar aumentando os investimentos em 7,8%, na média das consultadas. O crescimento será, entretanto, mais modesto que o de 2008, quando foi registrada expansão de 16% sobre 2007. Mas houve redução no ritmo de forma generalizada: a construção civil deve investir 9,7% ante 13,5%; o setor de bens de consumo, 9,1% ante 16,4%; o de bens de capital, 8,1% ante 21,4%; e o de bens intermediários (que servem para produzir bens de consumo), 5,7% ante 16,1%.

Segundo o economista, em ciclos anteriores de crise, a economia doméstica era mais afetada e, agora, os efeitos estão mais concentrados em outros países. A questão é que a indústria brasileira exporta para mercados em baixa. Num total de seis fatores apresentados como inibidores de investimentos, as dificuldades de acesso ao crédito aparecem em quarto lugar, apontadas por 28% dos entrevistados, o mesmo percentual de empresas que consideraram também como causa o custo de financiamento.

Marli Moreira – Agência Brasil

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