A crise financeira internacional freou a expansão do investimento de empresas brasileiras no setor produtivo do exterior. Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a junho, houve retorno líquido de US$ 1,798 bilhão dos recursos aplicados fora do país.

Os dados também mostram que a maior parte do retorno de recursos é resultado dos empréstimos intercompanhias, ou seja, do financiamento da matriz no Brasil à filial no exterior, ou entre uma subsidiária no país e outra fora. No semestre, houve retorno de US$ 2,988 bilhões de empréstimos intercompanhias.

“Nesse caso, se houve retorno, é sinal de que os projetos fora do país com os recursos dos empréstimos deram certo”, explica o consultor econômico e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo Freitas. Os investimentos em participação no capital de empresas tiveram saída do país para o exterior no total de US$ 1,190 bilhão.

Apesar disso, em relação ao ano passado, os dados indicam mudanças nos projetos de internacionalização das empresas brasileiras. Para se ter uma ideia, em 2008 os investimentos de empresas brasileiras no exterior acumularam US$ 20,457 bilhões.

Só no primeiro semestre, o investimento foi de US$ 8,579 bilhões. Desse valor referente ao período de janeiro a junho, houve saída de empréstimos intercompanhias de US$ 2,318 bilhões e a participação no capital no exterior foi de US$ 6,261 bilhão.

“Não dá para comparar o ano passado com este. Em 2008, a economia mundial vivia um momento de euforia, com lucros e demanda agregada em expansão”, disse Freitas. A crise financeira internacional se agravou já próximo do final do ano – em meados de setembro.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, as atividades fora do país estão afetadas por falta de crédito e pela queda no preço dos produtos.

Na avaliação do economista da Tendência Consultoria, André Facconato, o Brasil está em “situação muito melhor do que outros países do mundo”.

“Está valendo a pena apostar no mercado interno. O desemprego cresce menos que em outros países, o que se reflete na renda, e a economia não deve ser tão afetada como em outros lugares. Esse é um fator que também explica o crescimento do investimento estrangeiro direto no Brasil”, disse.

Facconato acredita que com a melhora da situação econômica mundial as empresas brasileiras devem voltar a investir no exterior. Freitas ressalta que o investimento brasileiro no exterior é importante para abrir mercados para a exportações brasileiras e para o emprego de brasileiros no exterior.

“Portanto, o retorno de investimentos brasileiros é ruim para o país”, disse.

Segundo Lima, não é possível saber exatamente para onde vão investimentos brasileiros no exterior. Isto porque devido aos incentivos fiscais, empresas brasileiras preferem enviar os recursos primeiramente para os chamados paraísos ficais e de lá reenviar para os destinos finais.

Kelly Oliveira – Agência Brasil

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