Os brasileiros devem enfrentar um ano com menos emprego e renda menor, por conta da crise financeira internacional. É o que avaliam economistas e que também já está previsto na revisão das projeções para os indicadores econômicos do Ministério do Planejamento.

O ministério apresentou na última semana a projeção para a massa salarial (soma de todos os salários pagos aos trabalhadores no ano) em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. No projeto de lei orçamentária enviado ao Congresso Nacional no ano passado, a estimativa para esse indicador era de 14,08%. No orçamento aprovado, o percentual caiu para 12,95%. Com a reprogramação orçamentária, anunciada ontem, o estimativa caiu ainda mais e ficou em 6,29%.

“O que a gente está esperando para este ano são dificuldades no mercado de trabalho. Portanto a população vai sofrer, sim. Provavelmente, com o desemprego, no primeiro semestre principalmente, e com a estabilidade do nível salarial”, afirmou o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ricardo Amorim.

Mesmo assim, o Banco Central espera que a massa salarial e as transferências governamentais (pensões e aposentadorias, Bolsa Família e outros) garantam o dinamismo da atividade econômica.

O motivo para esse cenário é o menor crescimento econômico no país por conta da crise financeira internacional. “Novamente uma crise econômica, um baixo crescimento econômico afetando diretamente a vida das pessoas. Isso não é bom, principalmente num país com má distribuição de renda como o nosso”, disse Amorim.

Apesar disso, o pesquisador não considera que se trata de uma “tragédia” e que os dados do mercado de trabalho já mostram alguma melhora no início do ano, em relação a dezembro de 2008. “A partir do segundo semestre, as coisas começam a melhorar, apesar de haver alguma possibilidade de piora.”

De acordo com o pesquisador, mesmo com o agravamento da crise, o governo tem que manter um discurso otimista. “Muito da crise vem de expectativas ruins, não é fruto de fatores econômicos diretos. Vem das expectativas dos empresários, que reduzem investimentos e compras e aumentam estoques, ou tentam desovar os estoques antigos e não aumentam produção. Mas o governo tem que manter o discurso otimista para evitar uma piora das expectativas”, argumentou.

Para Amorim, o trabalhador “tem que tomar muito cuidado com seu emprego”. “Não deve aumentar o número de postos de trabalho, principalmente para os mais jovens. Com o seu salário, não deve ter ganho real”, alertou. As dívidas, diz o pesquisador, devem ser evitadas e quem tiver alguma poupança pode aproveitar para comprar à vista bens mais caros, que devem sofrer alguma redução nos preços. “Endividar-se? Nem pensar neste momento.”

Quanto aos funcionários públicos, Amorim acredita que, provavelmente, terão que voltar à mesa de negociação para rever os ajustes salariais que estão previstos.

Agência Brasil / Kelly Oliveira

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