“É indispensável que o Governo, as demais organizações e instituições e as empresas mineradoras tenham a consciência de que estão se servindo de recursos não renováveis que pertencem também às gerações futuras.”

Por que alguns países crescem e se desenvolvem firme e admiravelmente enquanto outros se mantêm em situação medíocre ou até regridem, levando a população ao penoso nível de pobreza intensa? Se alguém tiver essa resposta com simplicidade, segurança e precisão merece receber o Prêmio Nobel. Evidentemente, a resposta não é simples, mas há caminhos diferenciados para a trajetória da miséria à riqueza. Isto é, da pobreza ao desenvolvimento, este aqui considerado no valioso conceito de Rostow¹.

Somos tentados a dizer que a miséria de um país deve-se aos poucos recursos de que dispõe. Embora isto pese muito, a verdade desta afirmação é, na maioria das vezes, pouco consistente pois, se assim fosse, todos os países ou regiões que dispunham de valiosos recursos minerais, desde carvão a ferro, petróleo, prata, ouro ou outros, deveriam hoje ser plenamente ricos e desenvolvidos. Mas a realidade é outra. Em grande número deles, a exploração não só reduziu ou exauriu as riquezas como prejudicou o ambiente e bloqueou a mente criativa das pessoas.

Esta afirmação decorre não só do que vi em boa parte do mundo como da vivência pessoal, tendo minha infância se situado em zona mineradora de carvão.

Este fato ocorreu em diversas partes do mundo, visualmente percebido quando você sobrevoa a região. Isto ocorreu no Brasil, na África e em muitos outros países.

A pergunta mais frequente que surge quando o assunto é exposto é: você é contra a exploração mineral e florestal?

Evidentemente não. Eles são recursos necessários à humanidade – atual e futura – e, se explorados com responsabilidade e parcimônia, tendo como princípio beneficiá-los e industrializá-los, o que agregaria valor, criaria emprego e renda, tornando-se importante fator para o desenvolvimento.

Se o processo for guiado por visão estratégica, com adequados condicionantes estruturais – crenças, valores e princípios – e com inteligência, os países ou regiões ricos em minérios e florestas teriam vantagem adicional e diferenciada para chegar ao desenvolvimento. Neste intervalo, no entanto, é indispensável que o Governo, as demais organizações e instituições e as empresas mineradoras tenham a consciência de que estão se servindo de recursos não renováveis que pertencem também às gerações futuras.

A saúde, a educação, a infraestrutura, a capacitação, a segurança e a responsabilidade social são componentes que integram o desejado processo evolutivo rumo ao desenvolvimento. Especificamente no Brasil, é  preciso não ficar satisfeito apenas com a paisagem fantasma que a exploração predominante por séculos, desde seu descobrimento (1.500), inicialmente promovido por interesses externos, especialmente por Portugal e Inglaterra. Assim como no Brasil, muitos outros países, destacando-se o continente africano, passaram por essa experiência.

Retornando ao questionamento inicial (explorar ou não explorar recursos naturais), não somos contra a exploração, porém, com responsabilidade e parcimônia. Sendo um recurso da humanidade, é preciso predominar a responsabilidade social, com significativa retribuição à sociedade, através de um processo evolutivo que estimule e favoreça o desenvolvimento das regiões, dos países e das pessoas, especialmente com recursos tecnológicos, evitando torná-los escravos da única opção: a dependência do emprego do mineiro, muitas vezes sem atenção aos riscos, principalmente, à saúde e à evolução do conhecimento.

Assim, em vez de os benefícios da exploração dirigirem-se apenas aos exploradores, devem abrigar toda a sociedade, o que pressupõe a utilização de adequada geopolítica e geoestratégia, com forte direcionamento à capacitação das pessoas, levando-as a despertarem para a criatividade e para o empreendedorismo, rumo ao desenvolvimento.

Então, os exploradores minerais e também florestais, sejam o governo, empresas estatais ou privadas – nacionais ou estrangeiras – devem manter permanentes e adequados programas direcionados ao desenvolvimento. Não basta contribuir para organizações – ONGs ou outras – apenas para contabilizar e beneficiarem-se da redução tributária -, é preciso eficácia e responsabilidade social.

¹ “Desenvolvimento é um processo inédito e irreversível de mudança social, através do qual se instaura numa região um mecanismo endógeno de crescimento econômico cumulativo e diferenciado”. (Rostow, W.W.)

* Humberto Dalsasso é Economista e Consultor Empresarial de Alta Gestão.

** Este artigo foi originalmente publicado no portal do Conselho Federal de Economia (Cofecon).

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