Economia brasileira: novos rumos
A economia brasileira passa por um momento importante, ainda que pouco confortável. Há alguns anos vínhamos alertando para a vulnerabilidade e insustentabilidade da política econômica que vinha sendo praticada. Preocupava-nos a insistência de nos contentarmos com a exploração (exportação) de recursos naturais e com os malabarismos numéricos (contabilidade criativa) que conseguiam não só iludir a maioria da população mas auto iludir o próprio Governo. Esses artificialismos, associados à insustentável política cambial, mantendo o Real supervalorizado, e a elevada carga tributária, enfraqueceriam o poder empresarial.
As ferramentas utilizadas para mitigar a realidade, inclusive a indução ao consumo, apresentaram seu esgotamento. Isto é a janela que permite visualizar a tempestade que se aproxima se não forem tomadas providências radicais. Isto é revelado pelo alto e crescente nível da dívida pública, pelos fracos ou negativos saldos comerciais e de transações correntes e dos insuficientes níveis de investimento em infraestrutura, apesar da elevada carga tributária. Isto revela a necessidade de ações estratégicas com adequado redirecionamento.
A indústria brasileira precisa aumentar seu poder competitivo. Para isso, além das providências governamentais de racionalização, precisará trabalhar a competência interna. Grande parte das empresas tem espaço para melhorar seu desempenho interno. Se a isto o Governo associar a melhora da infraestrutura, reduzir a burocracia e a corrupção, o poder competitivo das empresas terá espaço para crescer significativamente e ampliar seu mercado externo.
Há anos, quando passei por Belo Horizonte e pela Geórgia (EUA), ao observar a construção de edifícios, chamou-me atenção uma brutal diferença. Enquanto aqui um número elevado de funcionários, muitos dos quais de mão no bolso, operavam lentamente e a obra não avançava, lá havia alta sincronização e encadeamento, fazendo com que, em uma semana, o edifício já tivesse uma configuração inteiramente avançada. Lá um cronograma físico-financeiro bem definido e uma equipe preparada e motivada faziam a obra evoluir. Ali havia planejamento e capacitação, o que fazia a diferença.
A construção é apenas um exemplo claro. Isto vale para a maioria dos demais segmentos.
Assim, se o Governo tomar as providências corretivas na sua tarefa e as empresas investirem na capacitação profissional, a produtividade poderá melhorar significativamente e, com isso, aumentar o poder competitivo, facilitando inclusive as exportações.
A capacitação também é necessária no setor público. Reduzir o tamanho da máquina pública, dos gastos governamentais e da corrupção poderá facilitar o reequilíbrio das contas públicas e, consequentemente, a carga tributária.
Portanto, o tempo para normalizar a situação econômica brasileira depende da vontade, competência e eficácia que se tenha para essa transformação. Isto impõe adequadas reconfigurações estratégicas, com contínuo acompanhamento dos resultados e adequados redirecionamentos à medida em que as transformações forem ocorrendo. Metas realistas e prioridades devem ser estabelecidas.
Essas tarefas não são fáceis. Mas são possíveis e imprescindíveis para que o futuro traga mais tranquilidade.
*Humberto Dalsasso é economista, membro do Conselho Federal de Economia e consultor de alta gestão.
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