Do Brasil para o mundo
A recuperação da economia dos Estados Unidos e de países da Europa, depois da crise de 2008, e o enfraquecimento da economia brasileira geraram diversos impactos nas empresas nacionais. Dentre eles, um aumento no número de transações com companhias estrangeiras, como a mais recente pesquisa de fusões e aquisições realizada pela KPMG apontou.
Entretanto, se engana quem imagina que as empresas nacionais foram coadjuvantes diante do dólar valorizado. Em 2015, também observamos o recorde de companhias brasileiras comprando estrangeiras, com 66 operações ao longo do ano, um crescimento de 50% se compararmos com o ano anterior. Estados Unidos (17 operações), Chile e Colômbia (6) e Reino Unido e Argentina (5) foram os países focos dos investimentos brasileiros. Singapura (3), Suíça (3), Dinamarca (1) e até Finlândia (1) estão na lista.
Esse tipo de operação era raro até os anos 1990, mas a estabilização da moeda através do plano Real possibilitou que muitas companhias nacionais passassem a buscar planos de expansão.
Na conjuntura atual, tal movimento também foi reforçado, pois muitos empresários traçaram uma estratégia da expansão dos negócios em países com uma perspectiva econômica melhor e um risco menor, além de buscar novas tecnologias, diferentes processos de gestão, melhorias na logística de suas operações e ganho de competitividade. Oportunidades de valorização da marca, entrada em novos mercados e obtenção de recursos financeiros a taxas mais competitivas podem pesar para os empresários brasileiros no momento de optarem por esse tipo de transação.
Diante desse cenário, é importante destacar que a internacionalização é um processo que exige planejamento. As oportunidades, como já citado, são muitas, mas os desafios também são inúmeros. Um aspecto a ser considerado cuidadosamente é o custo tributário, o qual poderá impactar de forma significativa os resultados da empresa. É necessário ter o claro entendimento dos impostos devidos no país de destino do investimento, os impactos no Brasil e verificar a existência de tratados para evitar uma eventual dupla tributação e auferir de eventuais incentivos providos por estes países.
Outro ponto importante são as diferenças culturais, visto que é necessário saber o que a empresa deve “exportar” ou assimilar na sua cultura. Fazer uma aquisição no exterior não significa necessariamente impor o conhecimento da matriz, mas também aprender com a experiência estrangeira, criando um novo modelo a partir do conhecimento acumulado por ambas. A empresa que está adquirindo deve ter muito claro quais são os pontos da sua cultura que ela não quer perder e quais são “negociáveis”. Uma das práticas utilizadas para criar esse ambiente é expatriar executivos, mas, às vezes, o resultado pode não ser o esperado, principalmente se houver excesso nessa prática ou os colaboradores envolvidos não forem os mais indicados (por personalidade ou colocação na empresa). Normalmente, as equipes devem ser heterogêneas, compostas, por um lado, de conhecedores da cultura, missão e valores da companhia e, por outro lado, colaboradores que conheçam o novo ambiente de negócios e que possam contribuir com informações da cultura local e do funcionamento do mercado. É importante que os profissionais tenham a capacidade de conviver e aceitar ideias e formas de trabalho diferentes daquelas com as quais estejam habituados.
Portanto, gradativamente e, mesmo em um cenário instável, as fronteiras geográficas tem deixado de ser uma barreira para a expansão das empresas brasileiras. Na verdade, ultrapassá-las vem se tornando, cada vez mais, uma estratégia de crescimento, e em alguns casos, de sobrevivência.
* Ina Kjaer e Luis Motta são sócios da KPMG no Brasil.
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