A demissão é um momento para que a pessoa reavalie sua posição no mercado de trabalho, aconselha o diretor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, Ricardo Tortorella. Para ele, o planejamento é fundamental, o que envolve a busca por informações e a avaliação dos riscos de cada possibilidade. Estar atento a mudanças no cenário do país, como medidas e programas governamentais, também é interessante, orienta Tortorella.

O consultor Renato Torquato, de 42 anos, encarou a demissão como uma oportunidade de crescimento. Em novembro do ano passado, ele foi dispensado de um grande banco após 14 anos de serviços prestados. Segundo o consultor, é natural que haja uma frustração com a perda do emprego, mas é importante pensar rapidamente em estratégias para contornar a situação. “Você não pode ficar esperando aquele setor lhe absorver novamente.”

Torquato acredita, devido à idade, dificilmente conseguiria voltar a atuar no ramo competitivo das instituições financeiras. Por isso, buscou uma atividade em que sua experiência seria mais bem aproveitada. Passou a trabalhar como consultor de empresas e a dar aulas em faculdades de administração. “O meio acadêmico absorve essas competências, porque, além de conhecimento técnico, necessita da experiência”, explicou.

Torquato ressaltou que os primeiros momentos após a perda do emprego costumam ser complicados, pela diminuição da renda e queda na auto-estima.”Eu trabalhava das 9h às 18h desde os 14 anos. É difícil você se sentir inútil naquele momento [da demissão].”

É exatamente por essa fase que o metalúrgico Júlio César da Silva está passando. Ele trabalhou durante 20 anos na Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e é um dos 4,2 mil dispensados recentemente pela companhia.“No primeiro momento você fica sem chão”, disse.

O metalúrgico contou que, com a perda da renda, foram necessários vários cortes para acertar o orçamento da família. As despesas com TV por assinatura, internet e almoços em restaurantes nos fins de semana foram as primeiras a serem eliminadas. Mas a situação está obrigando o metalúrgico a fazer outros ajustes, que afetam inclusive os gastos com educação dos três filhos. O mais velho vai assumir os custos da própria faculdade e a filha mais nova terá de abandonar o curso técnico de mecânica.

Silva está tentando se recolocar no mercado o “mais rápido possível”. Ele disse que já enviou diversos currículos, inclusive para contatos em outros estados. Uma de suas maiores preocupações é a aposentadoria. “Tenho mais uns sete anos para me aposentar. Sempre paguei o teto de contribuição. Mas provavelmente agora, em outro emprego, vou ganhar menos.”

Agência Brasil / Daniel Mello

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