Aprenda como calcular o tamanho de uma dívida e saia do vermelho
Se tem um assunto que ninguém gosta de falar é sobre dívidas. É desagradável, pode gerar constrangimento e muita gente considera um problema íntimo, que não precisa ser compartilhado com ninguém. Mas como o nosso objetivo é ajudar você a colocar as finanças em dia, tomamos a liberdade de discutir esse problema, começando por como calcular o tamanho de uma dívida.
Tudo o que explicamos até aqui em nossa série sobre educação financeira é para você não chegar ao ponto de acumular dívidas. Lembrando que essas dívidas são aquelas que deixam você inadimplente e não aquele endividamento natural que temos ao longo do mês com despesas como aluguel, condomínio, energia elétrica e água. Para entender melhor essa diferença, clique aqui.
Como você pode ver, não é a primeira vez que falamos sobre dívidas aqui no blog. Agora, retomamos o assunto para auxiliar você a lidar com elas de uma forma que não causem uma confusão geral na sua vida. Por isso, a ideia é trabalharmos uma questão de cada vez, para que seja possível assimilar todas as informações e colocá-las em prática devagar.
Tudo o que não queremos é que você se apavore, afinal, o problema são as pendências financeiras e não as nossas dicas, certo? Por isso, nesse primeiro momento, o único propósito é ensinar como calcular os valores da sua dívida. Vamos lá?
Como calcular o tamanho de uma dívida
O objetivo é resolver um problema, então, o primeiro passo é não se enganar, afirmando para você mesmo que tudo é uma bobagem e que as coisas vão se resolver em algum momento. Não existe mágica para fazer uma dívida sumir, acredite! Ponha a cabeça no lugar, reflita sobre a situação e assuma uma postura firme em relação ao que está acontecendo.
Com isso em mente, está na hora de colocar os números no papel. Sempre ensinamos, aqui no blog, a usar uma planilha para fazer o controle das finanças, certo? Pois saiba que ela pode ser usada para registrar as dívidas também. Você pode usar a que O Economista disponibiliza gratuitamente. Para baixar, é só clicar na imagem abaixo:
Antes de anotar suas dívidas, coloque na planilha todos os seus rendimentos (salário líquido, benefícios, trabalho extra) e os gastos básicos (aluguel ou prestação da casa, energia elétrica, água, alimentação, gasolina, entre outros). Depois, coloque aquelas despesas esporádicas, mas que você sabe que acontecem, como o cinema no fim de semana, o cafezinho no meio da tarde e o happy hour com os amigos. E não se esqueça da reserva para emergências, que sempre indicamos fazer.
Com tudo isso registrado, é hora de apontar as dívidas que estão fora de controle, aquelas que estão inadimplentes. Separe uma categoria da planilha somente para elas e não se esqueça de anotar nada. Coloque todos os boletos, promissórias, empréstimos, financiamentos, enfim, tudo aquilo que você não tem dinheiro para pagar dentro do prazo de vencimento.
Agora você já sabe exatamente o tamanho da sua dívida. Na planilha é bem fácil de visualizar. Lá na aba Orçamento, depois de todas as categorias tem um box com o Total, que indica certinho os recebimentos, os gastos e o saldo do mês. Para quem está inadimplente, o saldo do mês vai aparecer em vermelho exatamente com o valor que ultrapassa suas possibilidades.
A pergunta agora é: como resolver essa situação?
Você pode começar verificando se existe algum dinheiro guardado. Essa é uma boa hora, por exemplo, para usar aquela reserva feita para imprevistos. Depois, é só começar de novo. Se for necessário, pare de guardar essa quantia durante o pagamento das dívidas, mas não se acostume. Assim que tudo estiver sob controle, retome esse hábito.
Outra atitude é ir lá nas despesas esporádicas e ver o que é possível cortar. Digamos que você costuma ir ao cinema duas vezes por mês, com direito a uma refeição depois do filme, e que também faz um happy hour por semana com os colegas de trabalho. No momento do aperto, esses são alguns programas que devem ser cortados. Para não sofrer muito, lembre-se que é temporário.
Também é possível ver se nos gastos básicos não dá para economizar. É claro que não estamos dizendo para você parar de tomar banho ou deixar de comer, não é isso. Estamos apenas pedindo para você rever algumas ações, como reduzir o tempo no chuveiro, apagar as luzes quando não estiver no ambiente e, até mesmo, trocar a marca de um produto no supermercado por uma mais barata. Essas atitudes, inclusive, podem se tornar hábitos e gerar economia o ano todo.
Não podemos esquecer que nesse primeiro momento também é imprescindível não fazer novas dívidas. Assim como você assumiu uma postura firme e resolveu encará-las de frente, também é preciso mentalizar que agora não é o momento de comprar, de fazer novos boletos e estourar o cartão de crédito.
Geralmente, seguindo as orientações que demos até agora, uma pessoa consegue resolver suas pendências financeiras, pois elas estão relacionadas mais à falta de organização do que à insuficiência de dinheiro. Ao colocar tudo no papel, ela vai ver que, se ficar em casa dois finais de semana no mês, vai economizar cerca de R$ 120,00, o que é mais que necessário para pagar o boleto atrasado da loja de roupas.
E que ao economizar uns R$ 90,00 no supermercado optando por marcas mais populares e deixando supérfluos de lado, vai conseguir pagar a fatura da energia elétrica em dia e fugir dos juros. Agora, se as dívidas forem maiores e realmente não puderem ser resolvidas com essas ações que falamos até aqui, será preciso partir para medidas mais extremas.
Como tratar as dívidas grandes
Quando a situação é pior do que imaginamos, é hora de pedir ajuda externa. Há várias formas de auxílio, vale até bater na porta dos pais e pedir esse socorro momentâneo. Porém, nem sempre a família pode nos amparar. Então, destacamos três maneiras de sair do sufoco por conta própria: venda de um bem, renegociação e empréstimo.
1 – Venda de um bem
À primeira vista pode parecer ruim ter que vender algo que você lutou tanto para comprar. No entanto, essa é a forma mais eficaz de resolver um problema de inadimplência, pois é possível quitar toda a dívida e, melhor ainda, não ficar devendo nada para ninguém. Daí você me pergunta: o que eu posso vender? A resposta é simples: depende do tamanho da sua dívida.
Digamos que você acumulou vários boletos de lojas que devem ser pagos nos próximos seis meses, não se dando conta de que somados chegam a quantia de R$ 500,00 por mês. Isso significa que será necessário o montante de R$ 3 mil nesse período, dinheiro que você não tem e nem terá, pois acabou de entrar na faculdade e precisa pagar a mensalidade, afinal, não dá para desistir de estudar.
No entanto, recentemente, você comprou um iPhone 8 Plus (um sonho, mas um mau negócio, pois usou todas as suas economias, além do 13º salário). Apesar de estar usado, ele ainda vale cerca de R$ 3.200,00. Venda o celular, pague todos os boletos de uma vez, evitando a tentação de gastar o dinheiro com outra coisa, e garanta o pagamento das mensalidades sem atrasos. Depois, quando você estiver em um emprego onde ganha mais, pode pensar novamente no iPhone.
Se for uma dívida maior, como as prestações de uma casa ou uma emergência médica, você pode optar por vender o carro ou a moto ou, caso tiver, algum joia de valor. O importante é colocar na balança o que vale mais e o que vai deixá-lo com menos dor de cabeça.
2 – Renegociação
Essa modalidade de crédito é interessante tanto para o devedor quanto para o credor. Para quem deve, a vantagem é não criar uma segunda dívida para pagar a primeira, ou seja, a dívida continua ali, mas agora com termos e valores diferentes. Para quem precisa receber, o benefício está em finalmente ter o dinheiro do que foi vendido em mãos.
Normalmente, ouvimos falar em renegociação quando uma dívida existe há alguns anos e o credor, para reaver aquilo que dava por perdido, oferece algumas conveniências para o devedor, como desconto para pagamento à vista e parcelamento no valor inicial sem juros. Há casos em que o abatimento pode chegar a 60% ou 70%. A regra é: mais vale algum dinheiro do que dinheiro nenhum.
Porém, existe também a renegociação de uma dívida que está em andamento. Um bom exemplo é o caso do cartão de crédito. Os juros do crédito rotativo, que são aplicados quando você não paga o valor integral da fatura, faz o parcelamento ou paga o mínimo, são um dos mais caros do mercado. Entre os bancos tradicionais, variam entre 9% e 13% ao mês (220% a 330% ao ano), mas podem chegar a 20% (790% ao ano) em outras instituições, segundo levantamento do Banco Central.
Então, se você perceber que não vai conseguir pagar a fatura em dia ou que acabou concentrando parcelas muito altas em poucos meses e vai precisar entrar no rotativo, entre em contato com o banco ou com a instituição que forneceu o cartão e renegocie sua dívida. Os juros, nesse caso, raramente ultrapassam os 10% ao mês. O ideal é procurar pela renegociação antes do vencimento da fatura para evitar os juros e a multa por atraso.
Agindo dessa forma, você evita a inadimplência, consegue organizar melhor as suas finanças (deixa as parcelas com valores que cabem no seu orçamento) e não faz uma nova dívida, por mais que acabe estendendo um pouco mais os prazos de pagamento. Por causa de uma situação como essa que indicamos o uso do cartão somente em emergências ou de maneira inteligente, como mostramos no texto sobre imprevistos financeiros.
Utilizamos o exemplo do cartão, mas a renegociação pode ser usada em lojas, em concessionárias, nas companhias prestadoras de serviço, como as de energia e água, e onde mais os credores aceitarem. Depois de vender um bem para quitar uma dívida por completo, renegociar é a melhor opção, principalmente porque as duas partes envolvidas querem resolver a situação.
3 – Empréstimo
Não há muito segredo em relação ao empréstimo, mas há situações em que ele é mais recomendável que outras. Se você tiver várias dívidas e cada uma delas com juros diferentes e elevados, emprestar dinheiro para quitá-las de modo integral (todas as parcelas) a juros mais baixos é uma alternativa interessante, desde que o valor único caiba no seu orçamento. Por isso, antes de finalizar o empréstimo, veja se ele está de acordo com os seus rendimentos.
Agora, se a ideia é usar o dinheiro para pagar prestações de apenas um mês, comprar algum produto não essencial ou simplesmente ter algum no bolso, não vale a pena. Além dos juros, que estão no mesmo patamar da renegociação, você vai acrescentar uma nova dívida na sua planilha. E é justamente isso que não queremos, certo?
Enfim, deixe a opção empréstimo por último na sua lista. Caso o mês tenha ficado muito longo para os seus recursos, pense em todas as alternativas que já indicamos aqui no blog. Você pode recusar alguns convites para sair, vender algum objeto de valor e, por que não, fazer um bazar com roupas, calçados e acessórios que não usa mais. É uma boa forma, inclusive, de incentivar o consumo consciente.
Mas se for realmente necessário pegar um empréstimo, precisamos fazer um alerta: preste atenção na oferta de dinheiro fácil. Há muita dessas financeiras de esquina que oferecem um monte de benefícios e, no fim, você acaba com uma dívida maior e, pior, por vários anos. Procure o seu banco, que geralmente terá um juro menor, ou alguma instituição idônea, com uma reputação respeitada no mercado.
Como você viu, não falamos apenas de como calcular o tamanho de uma dívida. Aproveitamos para já iniciar a discussão sobre como resolver o problema. Ainda daremos mais dicas de como lidar com esse tipo de situação, mostrando como limpar o nome e deixar a lista de inadimplentes do país, que atinge mais da metade da população economicamente ativa.
Esperamos que você tenha gostado do conteúdo e que ele seja bastante útil ao seu dia a dia. Se você tiver alguma sugestão ou exemplo de como lidou com um situação de dívida e quiser compartilhar, é só deixar um comentário. E, claro, continue acompanhando a nossa série sobre educação financeira. Temos textos novos toda semana!
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