Com as perdas bilionárias dos bancos norte-americanos por conta do agravamento da crise econômica, os bancos brasileiros ganharam espaço entre as instituições mais lucrativas e mais rentáveis do continente americano (excluindo o Canadá). Segundo estudo da consultoria Economática, três dos cinco primeiros do ranking dos lucros são brasileiros; no quesito rentabilidade, o Brasil ocupa a primeira e segunda posição.

O Banco do Brasil é o melhor colocado na lista, em terceiro lugar, com lucro líquido de US$ 3,767 bilhões no ano passado. Em seguida aparecem o Itaú (lucro de US$ 3,3 bilhões) e Bradesco (US$ 3,2 bilhões). O último representante brasileiro, o Santander, aparece na 17ª posição, com lucro de US$ 676 milhões. Em 2007, o BB estava na 12ª posição. Bradesco e Itaú, por sua vez, ocupavam o 6º e 7º lugares, respectivamente.

De acordo com o estudo da Economática, que analisou o lucro líquido dos bancos de capital aberto (ou seja, com ações negociadas em Bolsa), na lista constam ainda um mexicano e um chileno, ambos sendo filiais do espanhol Santander.

A liderança geral, porém, ainda é dos Estados Unidos, com o JP Morgan Chase, que registrou lucro líquido de US$ 5,6 bilhões em 2008, e o Bank of America, com lucro de US$ 4 bilhões. Apesar das perdas por causa da crise, os bancos americanos dominam a lista: dos 20 mais lucrativos, possuem 14 representantes.

As duas instituições financeiras já eram líderes no ano passado, mas com lucros bem maiores. O JP teve, em 2007, lucro de US$ 15,365 bilhões, enquanto o Bank of America lucrou US$ 14,982 bilhões.

Rentabilidade

Já entre os 20 mais lucrativos se verifica que os mais rentáveis são dois bancos brasileiros: BB e Bradesco. Para medir o mais rentável utiliza-se a chamada ROE (Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido).

A ROE é um indicador ao qual analistas financeiros dão muita atenção porque, de forma simplificada, reflete o quanto uma empresa consegue crescer sem fazer novos investimentos, usando apenas o patrimônio que já possui.

Nesse quesito, o Banco do Brasil apresenta rentabilidade de 32,5%, seguido pelo Bradesco, com 23,6%. Entre os cinco mais lucrativos estão quatro bancos latinos, incluindo o Itaú em quinto (21,5%).

Já os mais lucrativos –JP Morgan e Bank of America– ficam nas ultimas posições, com taxas de 3,9% e 2,5%, respectivamente–. Segundo a Economática, isso “demonstra que a qualidade do Banco do Brasil e Bradesco é muito mais representativa, apesar de terem um lucro menor”.

Dois fatores práticos, porém, explicam o fato de os ganhos dos bancos brasileiros superarem os dos americanos. Em primeiro lugar, a maior concorrência nos Estados Unidos, sendo que o Brasil é conhecido por seu um dos países com maior concentração bancária do mundo. Em segundo lugar estão os juros altos.

Apesar do corte da Selic da semana passada, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do mundo. Em termos nominais, ficam à frente da taxa os juros na Venezuela (17,06%), Rússia (13%), Turquia (11,50%) e Argentina (11,38%). Em relação aos juros reais (descontada a inflação), o Brasil continua com a maior taxa, de 6,51% ao ano.

“Economist”

Reportagem publicada pela revista britânica “Economist” deste semana, que chega às bancas nesta sexta-feira, afirma que os bancos brasileiros estão seguros e são uma “exceção” no setor em meio à crise. “Os bancos brasileiros podem ser caros, mas pelo menos eles estão seguros”, diz. “Até agora, nenhum deles teve problemas com a crise financeira mundial. Isso pode ser porque seus lucros com as atividades diárias são tão altos que eles não precisaram assumir riscos tolos.”

Sobre o corte de 1,5 ponto percentual da taxa de juros Selic na semana passada, a revista afirma que o Banco Central conseguiu cortar as taxas “dura e rapidamente”, e que mais cortes são esperados. Mas destaca, porém, que os cortes nas taxas não estão sendo repassados para os clientes, o que alimenta a discussão sobre os altos lucros dos bancos com seus “spreads” (diferença entre o custo de captação de dinheiro pelos bancos e as taxas cobradas dos clientes).

Folha Online

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