Após 20 meses, Selic volta a dois dígitos e chega a 10% ao ano
Aumento da taxa básica de juros para 10% ao ano desagrada mercado, que vê no controle dos gastos públicos uma alternativa melhor para conter inflação.

A taxa básica de juros brasileira – Selic – voltou ao patamar de dois dígitos após a alta de 0,5 ponto percentual anunciada na noite desta quarta-feira, 27, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Desde março de 2012 os juros básicos não permaneciam neste nível.

O resultado confirmou a expectativa do mercado financeiro, que acredita que a sequência de elevações da Selic ainda não acabou. De acordo com pesquisa feita pelo BC com mais de cem instituições financeiras na semana passada, somente em 2017 os juros básicos devem voltar a um dígito.

Controle da inflação

A decisão do BC em elevar a Selic justifica-se, sobretudo, pela contenção da inflação, cuja meta neste e no próximo ano é de 4,5% com tolerância de dois pontos para mais ou para menos. De acordo com o presidente do BC, Alexandre Tombini, o índice deve fechar 2013 abaixo do registrado no ano passado, quando a inflação chegou a 5,84%. Para este ano, o mercado projeta um avanço de 5,82%.

Segundo o gestor de investimentos da Lecca, Carlos Haber, a alta dos juros básicos não garante um controle eficaz da inflação para os próximos meses e, principalmente, para o ano seguinte. O necessário seria uma revisão nos gastos públicos: “O governo não promoveu um forte ajuste fiscal. Dificilmente isso vai se concretizar [em 2014] tendo em vista a eleição no próximo ano”. Por isso, de acordo com Haber, a única ferramenta disponível será, novamente, o reajuste da Selic.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), “os reflexos da elevação dos juros sobre o comportamento da inflação são defasados, ocorrendo somente no início de 2014”. Na nota divulgada à imprensa, a entidade propõe que “uma eventual retomada da inflação deva ser combatida, sobretudo, com a utilização da política fiscal, a partir da contenção dos gastos públicos correntes”.

E buscar alternativas para segurar a disparada de preços será ainda mais necessária em 2014 porque, na visão do mercado, a alta do dólar ocorrida neste ano será mais sentida a partir de janeiro. Os combustíveis terão reajuste ano que vem e os preços controlados em 2013 – como o transporte urbano – passarão por reajustes.

PIB potencial

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, o Brasil precisa trabalhar melhor para desenvolver seu baixo PIB potencial (quando é possível crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação). “Uma agenda de reformas trabalhistas, da previdência e tributária aumentaria a competitividade, a produtividade das empresas e conseguiríamos ter juros mais baixos. Pensando em prazos mais longos, também é preciso investir em educação. São coisas que demandam tempo. Não é voluntarismo. Tem de ter condições para ter juros mais baixos”, acredita.

Com informações do portal G1.

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