"Há tempos o governo culpa a taxa de câmbio pelas dificuldades da indústria. Por isso, elevou-a de R$1,50 para mais de R$ 2,00 por dólar. O resultado? Produtos mais caros, pressões inflacionárias e a produção industrial caindo cerca de 3% no ano."

O ministro Mantega ficou surpreso com o fraco crescimento do PIB no terceiro trimestre e culpou o termômetro, a medida do IBGE. Os leitores desta coluna não se surpreenderam. Meu artigo Crônica de uma Decepção Anunciada, de dezembro de 2011, já previa: “não se surpreenda com um crescimento muito baixo no ano que vem e até com uma pequena queda, se calotes ocorrerem na Europa. Feliz 2013.”

Com crescimento de 1% neste ano, nosso PIBinho só vai superar o do Paraguai, em toda América Latina. Peru, Colômbia e Chile crescerão quatro vezes mais.

Esse mau desempenho não se deve apenas à conjuntura externa, mas ao esgotamento de um modelo de política econômica baseado na expansão da demanda. O Brasil dobrou o crescimento médio do seu PIB a partir de 2004 aproveitando o aumento de consumo nacional e de demanda externa por matérias primas, usando mão de obra e infraestrutura ociosas.

Não dá mais. Com o menor desemprego da história e múltiplos gargalos de infraestrutura, só um incremento substancial do investimento e da produtividade permitiria um crescimento acelerado e sustentado daqui para frente. Só que isto não está acontecendo.

No Brasil, o investimento produtivo não chega a 19% do PIB. Ele é cerca de 50% maior nos nossos vizinhos, atingindo 30% do PIB no Peru e 27% no Chile e na Colômbia.

Por que investimos tão pouco? Para investir, um país precisa antes poupar. A poupança nacional é baixíssima por conta da gastança do setor público. Apesar de termos uma carga tributária que é o dobro da dos nossos vizinhos, nossos governos ainda gastam mais do que arrecadam, consumindo uma parte da poupança do setor privado.

Para completar, à medida que o crescimento do país se desacelerou, o governo reagiu de forma atabalhoada, levando empresários a postergarem ou até cancelarem investimentos. Já há até quem chame o Ministério da Fazenda de Remendobrás.

Reduzir a tarifa de energia elétrica é um objetivo louvável, mas ao invés de eliminar mais taxas e impostos, o governo preferiu reduzir a lucratividade das empresas do setor. Várias cortaram investimento. Não se surpreenda se tivermos apagões nos próximos anos.

No setor financeiro foi parecido. Diminuir os juros é um ótimo objetivo, mas trazer a taxa básica ao menor nível da história com a inflação acima da meta do próprio governo é arriscado. É como cortar a medicação com o paciente convalescendo.

Aumentar a competição bancária é um objetivo justíssimo. No entanto, expandir a oferta de crédito dos bancos públicos com a inadimplência em elevação transferiu a eles clientes que os bancos privados já não querem. Isto expõe seus acionistas – todos nós que pagamos impostos – a cobrirem eventuais perdas no futuro.

Por fim, há tempos o governo culpa a taxa de câmbio pelas dificuldades da indústria. Por isso, elevou-a de R$1,50 para mais de R$ 2,00 por dólar. O resultado? Produtos mais caros, pressões inflacionárias e a produção industrial caindo cerca de 3% no ano.

Tomara que nosso crescimento surpreenda positivamente em 2013. Pode acontecer. Se a crise europeia não se aprofundar, Obama conseguir desarmar o abismo fiscal americano e a China sustentar sua incipiente recuperação econômica, provavelmente cresceremos mais do que os 3,5% hoje projetados. Basta um destes fatores externos não cooperar, e o crescimento decepcionará pelo terceiro ano consecutivo.

Sem um encolhimento do peso do setor público, nossos investimentos serão baixos, nossa competitividade idem e o crescimento continuará limitado. Boas surpresas só quando a sorte ajudar. Está na hora de ajudarmos a sorte.

*Este artigo foi publicado originalmente na revista IstoÉ.

** Ricardo Amorim é economista, apresentador dos programas Manhattan Connection da GNT e Economia e Negócios da Rádio Eldorado, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria Empresarial.

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