Mediando um painel em um evento com grandes empresários brasileiros, perguntei a eles qual o maior desafio para o crescimento de suas empresas nos próximos anos. A resposta veio em uníssono: a falta de mão de obra qualificada é, atualmente, seu maior desafio.

O apagão de mão obra não é novidade. À medida que o desemprego no Brasil começou a cair desde meados de 2004, a dificuldade das empresas em contratar bons profissionais tem aumentado e os salários e benefícios dos funcionários subido.

No mercado de trabalho, assim como em infraestrutura e câmbio, o Brasil viu-se forçado a lidar com as dores do crescimento. Nas décadas de 80, 90 e início do milênio, quando o Brasil sustentou uma taxa média de crescimento do PIB de apenas 2% ao ano, faltavam empregos. Desde 2004, a média mais do que dobrou, hoje faltam profissionais qualificados para as vagas existentes.

O aumento da remuneração dos trabalhadores consolidou e fortaleceu o mercado consumidor. Só que a elevação de salários e benefícios não veio acompanhada por igual aumento da produtividade dos trabalhadores, encarecendo produtos e serviços no país. Para piorar, o Real apreciou-se significativamente, colaborando para tornar nossos produtos e serviços ainda menos competitivos em relação aos estrangeiros.

Esta nova realidade tem trazido desafios às empresas e tornou uma eficaz gestão de recursos humanos mais estratégica do que nunca. Atrair e reter talentos nunca foi tão importante, dando início a uma revolução silenciosa, com implicações positivas substanciais sobre a estrutura da nossa economia. Por terem sido praticamente ignoradas até aqui pela maioria das empresas, três transformações merecem destaque.

Enquanto oportunidades profissionais brotam no país nos últimos anos, elas minguam nos países desenvolvidos. Isto provocou uma reversão na histórica perda de talentos que o país se acostumara. Atraídos por melhores oportunidades e remuneração, centenas de milhares de brasileiros que trabalhavam nos EUA, Europa e Japão retornaram ao país, eu entre eles. Além disso, o número de autorizações de trabalho para estrangeiros no país triplicou nos últimos cinco anos. Já há mais de 1,5 milhão de trabalhadores estrangeiros legais iluminando nosso apagão de mão de obra e hoje, quem diria, atraímos até imigrantes ilegais.

Em paralelo, um aumento da expectativa e qualidade de vida, somado a uma futura incapacidade do sistema público de previdência de honrar suas promessas, mais uma sustentada queda da taxa de juros no Brasil, reduzindo a rentabilidade de aplicações financeiras, forçam cada vez mais aposentados a complementarem suas rendas, voltando a trabalhar. Será que as empresas estão prontas para eles?

Por fim, no Brasil, a mão de obra era barata e a tecnologia cara. Não mais. Enquanto os salários vem subindo, o custo de máquinas e equipamentos vem caindo devido à produção chinesa e à apreciação do Real. Um forte processo de mecanização e informatização vem aí, com impactos muito positivos sobre a produtividade, mas exigindo trabalhadores ainda mais qualificados.

Por trás da escuridão do apagão de mão de obra, há uma revolução silenciosa que só começou.

* Este artigo foi publicado originalmente na revista IstoÉ.

** Ricardo Amorim é economista, apresentador dos programas Manhattan Connection da GNT e Economia e Negócios da Rádio Eldorado, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria Empresarial.

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