A Economia e o Comportamento Humano
A primeira “lei” que se aprende nos cursos de Introdução à Economia diz respeito à “lei da escassez”. Prescreve tal lei a necessidade de alocar de forma eficiente os fatores/recursos de produção (incluindo a variável tempo) disponíveis, a fim de se obter, no final, bens e serviços que servirão para atender as necessidades infinitas dos consumidores.
Com isso, condiciona-se, direta e indiretamente, a um processo econômico que engloba o comportamental de escolhas (os conhecidos trade-offs – conflitos, na linguagem econômica. Em suma, significa afirmar que uma vez escolhida determinada opção isso implicará necessariamente na recusa de qualquer outra alternativa).
Na essência, a Economia está então estudando o comportamento de cada consumidor. E esse comportamento humano, é importante ressaltar, assim como quase tudo na vida, é feito de escolhas (opções). Essas escolhas, pela natureza constante em que aparecem em nossas vidas, apontam, no final, para a existência desses conflitos. Logo, por que então ocorrem os conflitos? Justamente, porque nem sempre é possível atender as necessidades de cada um, visto a existência implacável da escassez dos recursos. Tem-se aqui o confronto entre o finito (recursos) x infinito (desejo e necessidades dos consumidores). Em resumo: Não se produz o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas as necessidades (teoria neoclássica).
Desse modo, a Economia trata em seus estudos/abordagens do essencial no comportamento humano, qual seja: proporcionar satisfação às pessoas, desde que essas consigam atingir objetivos e cumprir metas; desde que tenham suas necessidades satisfeitas. Acontece que a recíproca também vale para esse caso. Uma vez que a escassez se apresenta de forma inexorável, por vezes, o grau de satisfação do consumidor, caso não seja alcançado os objetivos em termos de consumo a que foi almejado, diminuirá, tendendo, pois, à completa insatisfação. Insatisfação que se alargará ainda mediante outro conflito que não raras vezes ganha supremacia: quando o trabalhador paga de impostos mais do que recebe como componente social de seu padrão de vida.
Todavia, o que queremos chamar a atenção aqui é para a “presença” constante do comportamento humano no universo das análises econômicas.
Assim, longe da frieza dos números, dos gráficos e da econometria básica, a Economia, distante, pois, da ciência exata da matemática, se insere como ciência humana (e social, por definição ampliada) capaz de proporcionar melhoria substancial na vida das pessoas. Disso não tenhamos dúvidas, e é bom não perder de vista que a Economia é uma ciência social. Portanto, é uma ciência que está, a todo tempo, olhando e analisando a sociedade em toda sua complexidade, envolvendo, é claro, quem dela participa: os indivíduos com seus problemas (e desejos) particulares. Por isso entendemos que a Economia, enquanto ciência e atividade, deve se colocar ao lado desse indivíduo no sentido de capacitá-lo a agir de modo a transformar o mundo em que vive. O primeiro e talvez o mais importante passo para isso é começar por entender o comportamento humano, envolvendo desde as ações primárias aos gostos e preferências, objetos de estudo tanto da macro quanto da microeconomia, incorporando, por fim, o campo mais recente de conhecimento econômico: a análise comportamental. Por sinal, a primeira obra de Adam Smith (The Theory of Moral Sentiments), de 1759, abarca essa idéia.
Gary Becker, laureado com o Nobel em 1992 é outro desses economistas que conseguiram estender o domínio da análise microeconômica para uma escala de comportamento humano e interações, incluindo comportamento extra-mercado. Na essência, o postulado teórico de Becker, trata do Behavioral Economics (Comportamento Econômico).
Não é à toa então que o termo social precisa ser mais bem proferido quando se trata de fazer análises econômicas, uma vez que o comportamento econômico carrega, em si, um forte componente de escolhas na escala social. Essa é razão de uma boa definição encontrada nas palavras de Marshall sobre Economia, quando aponta que essa ciência engloba “(…) parte da ação individual ou social que está mais estreitamente conectada com o alcance e o uso dos requisitos materiais do bem-estar”.
É interessante notar, por fim, que o conceito de “bem-estar”, presente nas palavras de Marshall, – e na teoria econômica desde as primeiras contribuições formalmente elaboradas por Cecil Pigou -, se refere justamente ao que antes citamos. Essencialmente, atinge-se bem-estar quando se alcançam objetivos. Cada um tem o seu (objetivo), e cada “bem-estar” é proporcional ao peso específico que cada consumidor coloca nesses objetivos. Mas, definitivamente, essa análise de bem-estar incorporada ao cabedal teórico das ciências econômicas é algo que não pode escapar do pensamento dos economistas modernos.
Marcus Eduardo de Oliveira
Economista e professor do UNIFIEO (Depto. Comércio Exterior) e da FAC-FITO (Depto. Economia).
Mestre pela USP e Especialista em Política Internacional.
Autor dos livros “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea) e “Provocações Econômicas” (no prelo).
Comentários
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Henry
19/02/2013 - 21:10:56
Nicolas
04/04/2010 - 15:45:14
Paula Antonia de Campos
16/03/2010 - 16:15:06