Era muito comum há alguns anos ouvirmos alguém se vangloriar de que jamais havia “jogado” na Bolsa. O medo de perder dinheiro com ações e a falta de conhecimento fazia com que as pessoas se distanciassem da Bolsa e, ainda, em suas relações abordassem o tema de forma pejorativa. Hoje há um consenso de que a Bolsa traz uma real oportunidade de retorno, mesmo com juros internos tão altos.

Nos últimos 10 anos, os investidores em Bolsa no Brasil aumentaram de aproximadamente 70 mil para 600 mil. Evidentemente, estes novos investidores não vêem a Bolsa como um jogo, porém para alguns, sua forma de atuação pode ser vista como de jogador. E é isto que me preocupa.

Aos poucos, os investidores Brasileiros pessoas físicas buscam alternativas de diversificação e a Bolsa tornou-se uma boa opção. Porém esta opção é bem arriscada, especialmente se a estratégia de investimento é de curto prazo.

A Bolsa é realmente um negócio fascinante. As pessoas, mesmo sem informações, têm interesse por ela, principalmente quando ouvem que podem ficar milionárias rapidamente. Há uma enorme safra de livros de investimentos pessoais e de cursos dizendo que investidores pessoas físicas não financistas podem ficar ricos. Realmente, há como ficar rico na Bolsa, mas é uma falácia afirmar que isto pode acontecer com qualquer um, especialmente no curto prazo.

O mercado de Bolsa de Valores é altamente especializado. Os grandes investidores, também chamados de investidores institucionais, têm uma influência enorme nas movimentações dos preços das ações no curto prazo. Suas estratégias nem sempre são de longo prazo, mas geralmente motivadas por notícias que podem trazer instabilidade no curto prazo ou mesmo por uma simples mudança de estratégia.

Nós, investidores pessoas físicas, concorremos neste mercado de Bolsa onde investidores profissionais usam sistemas avançados e equipamentos de última geração, além de terem uma enorme carga de informações para tomarem as suas decisões. É evidente que em uma concorrência como esta estamos em desvantagem, principalmente quando, sem este aparato tecnológico, nos aventuramos a “operar”, comprando e vendendo ações para termos ganhos rápidos. Nesta concorrência de curto prazo, nossa chance de ganhar é baixa.  Mas, será que mesmo sem termos todos os recursos dos grandes investidores podemos nos beneficiar dos ganhos da Bolsa? Sim.

O preço de uma ação é o resultado de uma convergência de percepções e expectativas dos investidores em relação à valorização da companhia e pela sua geração de resultados futuros, o que, a rigor, deveria sustentar-se no longo prazo pelos seus fundamentos, ou seja, por sua capacidade de competir nos mercados em que atua. Assim, quando analisamos uma empresa devemos tentar entender como sua estratégia terá impacto nos seus resultados futuros. Fazer projeções é sempre muito difícil, principalmente para quem não vive no mundo das finanças e mais ainda para quem não tem tempo para acompanhar os mercados de perto. Mesmo assim, é sempre importante que tenhamos boas e confiáveis informações sobre as empresas nas quais investimos.

Definitivamente a Bolsa não é um jogo. Pelas nossas limitações de tempo e informação, deveríamos optar por fazer investimentos em ações com estratégia de longo prazo, o que aumenta a probabilidade de ganhos e permite uma diversificação mais eficiente nos nossos portifólios. Devemos investir em empresas que acreditamos ter possibilidade de geração de resultados consistentes no futuro e não somente pelas ilusórias chances de obtermos pequenos ganhos diários.

As tentações são enormes para que mudemos nossos portifólios constantemente, principalmente quando o mercado está em baixa. Atuamos como investidores jogadores quando mudamos nossos investimentos em Bolsa sem buscarmos e analisarmos informações. É consenso que os maiores ganhos estão no longo prazo. A grande questão é como montamos uma estratégia de investimento que nos permita obtê-los. Claramente, as chances de ganharmos no longo prazo diminuem quando fazemos apostas sucessivas no curto prazo.

Ricardo Mollo – Professor de Finanças Corporativas do Insper, tem MBA pela University of Dallas e é PhD candidate na University of London. Trabalhou por 20 anos no Mercado Financeiro tendo sido Diretor do Unibanco.

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